O grito no asfalto
O asfalto repica o eco do andar apressado de Valdelice com Aramy no colo. O formigueiro humano já não mais assusta. O centro de São Paulo é o espaço de pedido de socorro. “Temos a certeza de que aqui
Mãe guerreira
“Como mulher fico orgulhosa e agradecida, diante da manifestação dessa mãe, indígena, mulher e guerreira. É dignificante para São Paulo ouvir o grito forte de vida, resistência e crença num futuro melhor trazido por vocês Kaiowá Guarani”, disse a antropóloga
Uma das estranhezas de Valdelice era o de não ver crianças naquela multidão de gente. Não via companhia para a pequena Aramy, que carregava no colo o dia inteiro. Imaginava estar num cenário de guerra, em que as crianças deveriam estar guardadas em algum refúgio.
Como filha do cacique Marcos Verón, não cansou de chamar atenção para as barbaridades cometidas contra seu pai e repetidas em dezenas de vidas assassinadas na luta pela terra Kaiowá Guarani, nos últimos anos. Lembrou, em todos os momentos, o covarde assassinato dos professores Guarani, Genivaldo e Rolindo, cujos familiares, pai e irmão, estavam presentes nesta delegação indígena
Quando Valdelice com Aramy no colo chegaram à rodoviária de Dourados juntamente com o restante da delegação, recebeu um vaso de flores brancas, como homenagem singela a todas as resistentes e guerreiras mães Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul. Com a certeza da missão cumprida dentro da luta que continua. Foi abraçar suas filhas e a família na Terra Indígena de Dourados, nesse dia das mães.
Filhos da luta
“Enquanto tiver um Kaiowá Guarani de pé, a luta continuará”, afirmou Apikaverá, diante de uma platéia atenta. Os estudantes e professores da PUC de São Paulo, que por mais de duas horas viram cenas em vídeo e ouviram o depoimento lideranças, não apenas ficaram emocionadas e indignadas, mas certamente estarão buscando alguma forma de apoio e solidariedade com essa luta tão desigual mas dignificante desse povo.
“Chega de matar nosso povo! Resistimos por mais de 500 anos e muito mais do que isso ainda vamos resistir!”, disseram as lideranças no memorial da Resistência. “Estamos vivos”, clamaram, diante dos representantes de movimentos e lutadores sociais, especialmente do movimento negro. Ouviram o compromisso dos presentes em colaborar com a luta indígena. “A luta de vocês é também a nossa luta contra o latifúndio, contra a exploração e opressão, no campo e na cidade”, disseram os apoiadores. Aceitaram o convite de visitarem as aldeias Kaiowá Guarani e viabilizar uma delegação, juntamente com outras instituições de Direitos Humanos e combate à desigualdade racial.
Ao retornarem aos seus espaços de vida, luta e resistência, estavam convencidos de que semearam gritos de socorro e esperança para a reconquista de suas terras e seu futuro com dignidade. Só lamentam não terem sido recebidos pelos desembargadores, pois é daí que partem muitas decisões com relação às suas terras. “Fomos muito bem recebidos
Egon Heck