Resposta de dom Erwin Kräutler ao engenheiro Nagib Charone
Bom dia, Belo Monte!
Boa noite, rio Xingu!
Não costumo responder ou manifestar-me quando em artigos de jornal sou frontalmente agredido. No entanto, já que o engenheiro Nagib Charone nasceu e se criou em Altamira e sua família, conhecida por mim, se transferiu a Belém tão somente para possibilitar estudos mais aprimorados para os filhos, não posso deixar de comentar o seu artigo veiculado por O Liberal (PA), edição de domingo, 2 de maio, e pelo Correio Braziliense (DF), edição de 7 de maio.
A linguagem do artigo é demasiado agressiva e assume um tom humilhante e de desprezo para com quem não defende o ponto de vista do articulista. Mas isso, mesmo que doa, é de somenos importância.
Quero esclarecer dois pontos, já que fui citado no artigo:
1- O que sempre defendi foi que o Brasil poderia dar ao mundo um exemplo de cuidado mais esmerado com o meio-ambiente e, ao mesmo tempo, de avanço na busca de fontes alternativas de energia, como a energia solar e eólica. No Brasil não nos faltam universidades, centros de pesquisa e cientistas de ponta na busca de tais alternativas. Falta, no entanto, mais incentivo para tal.
2- Nagib Charone me acusa de deixar "os belíssimos ensinamentos de Cristo". Aí ele me acusa de maneira leviana! Entrou no rol daqueles que atacam o bispo do Xingu de forma gratuita e rasteira. Lamento que um engenheiro e professor da UFPA, filho de Altamira, chega a excessos de crítica tão maliciosa. Nunca tive a intenção de lançar-me "em debate técnico"! O que me preocupa em relação à Belo Monte é exatamente a situação da população que será impactada se o projeto for executado:
a) Ao longo de cerca de
b) Um terço de Altamira vai para o fundo. Entre
c) O que resta da cidade de Altamira, se o projeto for realizado, vira uma península, cercada parcialmente por um lago estagnado, podre, morto. O IBAMA não conseguiu ultimar os estudos necessários a respeito da qualidade da água e certamente não conseguirá fazê-lo. A qualidade da água do lago artificial é uma incógnita, é imprevisível. Fato é que segundo a experiência feita em outros lugares (Tucuruí, por exemplo), esse lago será um viveiro de carapanã e de todo tipo de outros mosquitos e gerador de doenças endêmicas. Altamira já está cheia de dengue. O que será de nossa cidade?
São essas as minhas preocupações, minha aflição, minha angústia em relação ao futuro do povo de Altamira, dos povos indígenas e ribeirinhos do Xingu.
Como bispo e pastor defendo o meu povo, impulsionado exatamente pelos "belíssimos ensinamentos de Cristo", contidos no Evangelho.
Erwin Kräutler, Bispo do Xingu
Presidente do CIMI