Informe nº 911: Criança Kaingang morre em corredor de hospital por negligência médica
Criança Kaingang morre em corredor de hospital por negligência médica
Nesta terça-feira (27), uma criança de três anos do povo Kaingang faleceu no corredor do Hospital Regional de Chapecó (SC) por falta de atendimento. De acordo com o pai da menina, Ari Feliciano, liderança da aldeia Kondá, ela começou a passar mal e ter vômitos na tarde de segunda-feira. Às 3h da madrugada do dia 27, ele levou a filha para o Hospital Regional do Oeste, onde ela teria tomado uma injeção e alguns remédios, receitados pelo médico que estava de plantão.
A criança não melhorava e ele a levou novamente para o hospital no início da tarde do mesmo dia. A criança entrou com a mãe, Iraci da Silva, e com a prima, Andréia Pedroso. Andréia informou que elas chegaram às 14h30min e foi solicitado um exame. A demora para ser atendida em relação ao exame foi grande e segundo Iraci, a criança só foi atendida quando já estava morta.
Andréia afirmou que a mãe chamava pelos enfermeiros várias vezes, "desesperada", mas eles respondiam que "não podiam fazer nada". Segundo Aceli, paciente que estava no local também para ser atendida no pronto-socorro, houve mesmo demora no atendimento. "Quando cheguei, ela já estava lá e ficou mais de meia hora dizendo que sua filha estava mal", afirmou Aceli.
A família da vítima informou que entrará com uma ação judicial contra o hospital. O enterro da criança ocorreu na manhã de hoje (29).
O Cimi Chapecó denuncia esta barbárie que poderá acontecer em outros lugares deste país e se coloca solidário à família de Ari Feliciano neste momento de muita tristeza.
Indígenas pedem revogação de decreto de reestruturação da Funai
Cerca de 150 indígenas, representantes de povos de várias regiões do país, participaram de audiência pública ontem (28), na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara Federal,
De acordo com os indígenas, o governo tem tentado se apropriar das riquezas existentes em terras indígenas por meio da mineração, construção de estradas e das grandes obras previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Lula é hipócrita, pois disse reconhecer os direitos indígenas durante a festa da Raposa Serra do Sol. Ele diz que não precisa das terras indígenas, mas quer fazer mineração, estradas e barragens em nossas terras”, afirmou Carlos Pankararu.
O procurador-geral da Funai, Antônio Marcos Guerreiro Salmerão, argumentou que a nova estrutura do órgão consagra princípio da consulta. Segundo disse, "o decreto criou comitês regionais, um órgão paritário, com participação de indígenas da região, para eleger metas e prioridades". O grupo não concorda e diz que o processo está sendo feito de cima para baixo sem a participação dos povos indígenas.
Os indígenas disseram que vão pressionar o governo levando o caso a organismos internacionais de direitos humanos. Para eles, o decreto fere a Constituição e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Essa convenção, da qual o Brasil é signatário, determina que qualquer decisão de interesse dos índios deve ser tomada só depois de consultas às comunidades indígenas.
O grupo lembra diversos episódios recentes de violação de direitos dos povos indígenas do país, nos quais, de acordo com eles, não se viu uma ação efetiva da Funai, como a prisão do cacique Babau, liderança Tupinambá da Bahia, preso de madrugada durante ação ilegal da Polícia Federal.
“Esse governo fala de democracia, mas na verdade existe uma ditadura forjada de democracia, onde as autoridades prendem importantes lideranças de madrugada e em ações autoritárias, diz-se construir hidrelétricas a qualquer preço e esquecem os garimpeiros e invasores que tomam conta das terras indígenas”, afirmou o líder Kretã Kaingang, representante dos indígenas da região sul.
O advogado Arão da Providência Guajajara, representante dos índios da região centro-oeste, afirmou que com o decreto atual a função da Funai passou a ser unicamente a de coordenar a formulação de políticas indigenistas, perdendo a atribuição de cuidar do patrimônio indígena. "A Funai passou a ser agência reguladora", afirmou.
Outra denúncia dos povos indígenas foi contra a Portaria 564/2010, que permite a atuação da Força Nacional de Segurança Pública na Funai, inclusive com a utilização de arma de fogo contra terceiros. O próprio representante dos servidores da instituição, Wagner Tramm, sentenciou que "o governo está em guerra contra os povos indígenas".