26/02/2010

Carta do Cimi ao povo Awê Uptabi

 

Caros irmãos, irmãs, parentes do povo Awê. Temos acompanhado com preocupação os acontecimentos que envolvem a instalação de projetos hidrelétricos no Rio das Mortes e em outros rios, projetos estes que, certamente, põe em risco o futuro de vosso povo e de outros.

 

Como sabem, estes projetos já se instalaram em outros lugares do país e também aqui em Mato Grosso prejudicando, por exemplo, povos como Arara do Rio Branco, Enawenê Nawê, Rikbaktsa, Myky e Nambikwara. Falo das centrais hidrelétricas em construção ou construídas no rio Juruena e Aripuana. Uma delas, chamada Dardanelos, já destruiu o antigo cemitério do povo Arara do Rio Branco, em uma parte do território que ficou fora da demarcação. Também vocês devem estar acompanhando a luta dos povos do Xingu contra a construção dos projetos hidrelétricos de Belo Monte no Pará e as barragens no rio Madeira, em Rondônia. Todas estas obras com grandes prejuízos para os indígenas, ribeirinhos e outras comunidades tradicionais.

 

Todos estes projetos são frutos da ganância de alguns não-indígenas (warazu) que, acima de tudo, buscam dinheiro e riqueza não se importando com os povos que sofrerão as conseqüências nem com eles mesmos, que também sofrerão, pois o que se faz a natureza, como sabem, se faz a todos.

 

Muitos chamados empreendedores tem se reunido com indígenas e feito inúmeras promessas, aproveitando-se da fragilidade da educação, da saúde e dos problemas que os povos indígenas enfrentam. Prometem o que já é garantido por leis e que os governos deveriam cumprir. Às vezes até vão para as aldeias acompanhados de quem deveria defender os indígenas e estar contra estes projetos, mas estes também têm seus interesses.

 

Diante de tantas promessas, que parecem muito boas – pois eles nunca mostram os prejuízos que vocês terão – muitos poderão achar que será uma saída para o povo. Mas não esqueçam que o warazu rico não faz nada para perder dinheiro e se promete um benefício é por que o dele será muito maior. Exemplos na história recente não faltam.

 

Lembremos do que se passa com outros povos, como os parentes Xerente, do Tocantins, que passaram a viver em situações precárias, com a redução e morte dos peixes, diminuição da caça, das águas do rio entre outros problemas causados pela barragem de Lajeado. As compensações não devolverão os peixes ao rio e qualquer dinheiro, por maior que seja, um dia acaba e ficam os problemas.

 

Na história passada dos Awê e atualmente, todos nós sabemos o quanto vocês tem resistido e lutado para manter sua cultura, sua língua, suas terras e seu jeito de viver. Com certeza saberão resistir também a esta tentativa dos que querem se aproveitar dos bens que pertencem a vocês e que não devem ser entregues a ninguém a não ser à vossos filhos, netos e a geração futura.

 

O warazu não se preocupa em mudar a natureza, nem com as conseqüências que isso traz para ele e para os outros. Se não sabem, aprenderão dos povos indígenas e, com certeza, no futuro agradecerão por não ouvirmos nem aceitarmos seus falsos presentes.

 

O dinheiro das compensações, que na verdade não compensarão, está sujo de sangue, pois vem da destruição da natureza e dos povos que dela dependem. Nenhum dinheiro compensará os problemas futuros.

 

Como parceiros, aliados e amigos dos povos indígenas, nós do CIMI MT queremos expressar aqui nossa solidariedade a qualquer forma de resistência de vocês a estes projetos que ameaçam não só os indígenas de hoje mais as crianças e aqueles que ainda virão.

 

Pela vida do povo Awê e de todos os povos indígenas, queremos que a morte do rio fique só no nome.

 

Vida para o rio Das Mortes! Vida para os povos indígenas!

Não a construção de centrais hidrelétricas.

Sawidi

 

Conselho Indigenista Missionário – CIMI Regional Mato Grosso

Fonte: Cimi Regional MT
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