03/02/2010

Hepatite B faz nova vítima em Guajará-Mirim

Em menos de dois anos, quatros óbitos já foram registrados na região. Para a comunidade, há morosidade no atendimento prestado pela Funasa.

 

A Hepatite B faz a quarta vítima, em menos de dois anos, na região de Guajará-Mirim, em Rondônia. No último dia 25 de janeiro, uma indígena do povo Oro Wari, faleceu na UTI do Hospital João Paulo II, em Porto Velho. A moça, moradora da aldeia Rio Sotério, terra indígena Pacaas Novos, tinha 24 anos e estava internada com quadro critico de cirrose hepática, complicação decorrente da Hepatite B crônica.

 

De acordo com a acompanhante da vítima, houve falta de assistência no alívio das dores, tanto no pronto socorro do Hospital João Paulo II como na Casa de Saúde Indígena de Porto Velho (CASAI). A paciente estava muito amarela, com a barriga distendida (inchada), dores abdominais intensas e chegou a ter vômitos com sangue. Segundo informação da enfermagem do Pronto Socorro do Hospital João Paulo II, a paciente veio encaminhada da CASAI de Guajará-Mirim com “problema de vesícula”.

 

A Funasa confirma o diagnóstico da Casa de Saúde, embora tenha conhecimento de que a vitima era portadora do vírus há alguns anos. Nos casos de óbitos que ocorrem por complicações da hepatite B, seja cirrose e/ou câncer primitivo do fígado, a Fundação nega o diagnóstico, referindo-se somente ao disposto no atestado de óbito, onde geralmente consta como causa da morte “choque hipovolêmico” ou “parada cardiovascular”.

 

Um agravante aos pacientes com quadro de Hepatite na região é o péssimo atendimento hospitalar. O pronto socorro está sempre superlotado e os pacientes, independente da gravidade da doença, permanecem, por dias, deitados em macas. O atendimento médico e a realização de exames, por sua vez, só acontecem por insistência e pressão dos acompanhantes. A FUNASA que deveria fazer esse papel não o faz, deixando os indígenas desamparados.

 

Histórico

 

De 2008 para cá, somente no Pólo-Base de Guajará-Mirim, onde vivem cerca de cinco mil indígenas, quatro pessoas morreram em decorrência de complicações causadas pela doença. No entanto, desde 1994, ano em que houve um surto de Hepatite B e delta na região, a doença já fez 13 vítimas.

 

Inquérito

 

Entre 1994 e 2005, com a notificação de 40 casos positivos da doença e o óbito de nove pessoas, a FUNASA realizou um inquérito com o objetivo de identificar os portadores de Hepatite B e C, bem como fazer um acompanhamento semestral dessas pessoas e iniciar tratamentos para evitar, assim, complicações que pudessem evoluir para um quadro fatal.

 

No entanto, o inquérito foi encerrado em 2009 com uma série de atrasos e omissões por parte da Fundação: atraso na realização do diagnóstico e entrega dos resultados de exames aos indígenas; falhas no encaminhamento dos casos positivos para consulta especializada e exames e também no retorno desses pacientes.

 

Aldeias como a do Rio Sotério, que participaram do inquérito em setembro de 2005, só receberam os resultados em agosto de 2007. Os casos positivos, por sua vez, só fizeram consultas e exames entre junho e setembro de 2008, não tendo ainda recebido os resultados. Continuam, portanto, sem saber se a doença está evoluindo ou não. Nos casos em que o vírus está se multiplicando, os pacientes não estão recebendo o tratamento adequado, com freqüentes atrasos no atendimento.

 

O atendimento especializado tem sido realizado pela equipe Dr. Juan, do Centro de Pesquisa em Malária (CEPEM), que atua no Hospital CEMETRON em Porto Velho. Diante das dificuldades que a FUNASA tem para encaminhar os casos positivos, e após uma Audiência Pública convocada em maio de 2008, a equipe se prontificou a atender em Guajará-Mirim alguns finais de semana. Essa contribuição é valiosa, entretanto insuficiente, visto que as vindas da equipe para Guajará-Mirim, não estão acontecendo no ritmo esperado, e dezenas de pacientes que a mais de ano fizeram a primeira consulta, aguardam retorno.

 

Respostas

 

Quando questionada sobre o motivo do atraso na entrega dos resultados, a FUNASA diz que o Laboratório Central-LACEN em Porto Velho os envia para o município para notificação; que em seguida o município os manda para CASAI e que a mesma, alegando falta de recursos, os envia para a FUNASA da região para tirar xérox, retornando meses depois.

 

O fato é que esse atraso não traz prejuízos somente aos pacientes como também à notificação dos casos positivos. De acordo com o Núcleo de Vigilância Sanitária do município (NUVEPA), só podem ser notificados os resultados num prazo de 180 dias a partir da data da coleta.   

 

As hepatites B e C, endêmicas na Amazônia, não são exclusivas dos indígenas e fazem vítimas principalmente em área rural ou ribeirinha. No final do ano passado, um senhor do município de Guajará-Mirim, lamentava a perca de seu filho de 11 anos, portador da hepatite B, que naqueles dias havia falecido num quadro de cirrose.

 

A FUNASA prefere manter sob sigilo o número de casos de hepatite B. Entretanto, o CIMI busca denunciar a omissão em relação ao atendimento que deveria ser prestado a esses pacientes e não somente o número de casos. Esse descaso fere recomendações do próprio Ministério da Saúde, que indica a realização de consulta especializada exames específicos de seis em seis meses.

Fonte: CIMI – Regional Rondônia
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