28/01/2010

Informe nº 898 – Saúde: Indígenas exigem mudanças no atendimento no sul da Bahia

Depois de esperarem mais de uma hora para serem atendidos, cerca de 50 caciques e lideranças Pataxó e Tupinambá se reuniram na manhã de ontem, 27, com o presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Danilo Forte, na sede do órgão, em Brasília. Também participaram da reunião o coordenador regional do órgão em Salvador, Willian Dell’Oso e o diretor de saúde indígena, Flávio Nunes.

 

Os caciques presentes mostraram indignação com a situação da saúde no sul da Bahia em depoimentos fortes e até emocionados. As denúncias de cada membro da delegação muitas vezes se repetiam, com exemplos tristes que a negligência do órgão acaba causando. Entre as principais queixas estão a falta de carros para atender as pessoas doentes, a situação de abandono do Pólo de Saúde de Porto Seguro, que foi inaugurado em setembro do ano passado e que até hoje não tem condições de funcionamento.

 

Em sua fala, o cacique Aruan Pataxó, da Aldeia Coroa Vermelha, reclamou da falta de conhecimento do presidente da instituição em relação aos problemas vividos pela comunidade. "O senhor como presidente deve ter pulso firme para coordenar a sua equipe. Enquanto presidente, é o maior responsável pela situação crítica que estamos vivendo", ressaltou o líder. O cacique também lembrou a falta de regularização entre a Funasa e as prefeituras da região, a falta de remédios e questionou a não execução do plano distrital que, segundo ele, desde que foi lançado, quase nada do que está no documento foi cumprido.

 

Outro cacique a fazer reivindicações foi Jeová Pataxó. "Pelo amor de Deus! Por que vocês fazem isso com a gente? Vocês estão nos matando! O que está acontecendo?", disse bastante emocionado. De acordo com Jeová, não há equipe médica para atender os indígenas, não há medicamentos e ninguém assume a responsabilidade da situação. "Quando vamos cobrar, a administração em Porto Seguro, jogam para Salvador e Salvador diz que o problema é em Brasília. Eu não sei mais onde reclamar!", declarou. O cacique também exigiu que o presidente do órgão veja a realidade de seu povo. "Mande fiscalizar a sua equipe! O governo federal precisa mudar o seu discurso! De seis meses pra cá a coisa só piorou e o que estamos vivendo é um massacre".

 

Os problemas colocados pelas lideranças Pataxó acabam se repetindo com o povo Tupinambá. Sinval Tupinambá, uma das lideranças do povo, listou vários problemas e deu exemplos do que sua comunidade tem vivido. "Nos juntamos aos parentes Pataxó porque a nossa realidade é igual! Não é a primeira vez que venho aqui cobrar a melhoria desta situação", afirmou. Como uma das principais cobranças de seu povo ele pediu a exoneração do administrador do pólo de Ilhéus.

 

Falta de comunicação?

Depois das falas da comissão indígena, Danilo Forte afirmou que sua administração é de portas abertas e que sempre procura visitar os estados para verificar como vão os atendimentos. "Sempre apoiamos a autonomia dos distritos e até firmamos parcerias com o Ministério Público, como é o exemplo de Mato Grosso", disse. Ele também afirmou estar surpreso com alguns relatos. Em relação às denúncias, ele se comprometeu a tomar as providências e pediu que o coordenador regional de Salvador apresentasse as explicações a respeito de tantos problemas.

 

 O coordenador regional da Funasa de Salvador, Willian Dell’Oso também afirmou que não tinha conhecimento dos problemas apresentados pelos indígenas e que tomaria as providências necessárias em relação ao pólo de Ilhéus. Sobre Porto Seguro, ele informou a transferência do administrador de um pólo no Mato Grosso, para o Pólo de Porto Seguro. Sobre o problema da falta de recursos, o coordenador afirmou ter discutido com a área administrativa do órgão, porque não estava recebendo verbas.

 

Em relação à falta de remédios da farmácia básica, ele afirmou que os itens serão entregues agora, no começo do ano, e sobre os outros que não constam na lista básica, será feito um pregão para definir os fornecedores de 390 tipos de medicamentos. O coordenador informou também a locação de nove veículos para Porto Seguro e Ilhéus. A respeito dos carros que estão quebrados, Dell’Oso disse que as novas peças dos carros serão adquiridas agora.

 

O diretor de saúde indígena, Flávio Nunes, disse que estará em Salvador no dia 12 de fevereiro e que de lá seguirá para os pólos para verificar as demandas. Agora os indígenas aguardam o cumprimento de tantas promessas.

 

Funai

No período da tarde os indígenas seguiram para o Palácio do Desenvolvimento, onde se reuniram com o presidente da Funai, Márcio Meira e conversaram sobre o Decreto 7056/2009. Meira fez explicações sobre o decreto e ficou definido que os índios devem se reunir com a Funai local para definir onde ficará a administração regional e as coordenações técnicas locais.

 

Conselho Indigenista Missionário

Brasília, 28 de janeiro de 2010 

Fonte: Cimi - Assessoria de Imprensa
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