Direitos Humanos e balas – Por Egon Heck – Cimi – MS
Trêmula com voz embargada dona Francisca, com duas fotos de seu filho Rolindo na mão, começa a clamar por apoio para localização do corpo de Rolindo. Em meio às lagrimas e as palavras entrecortadas em Guarani, se dirige ao Embaixador dos Países-Baixos (Holanda). Cena comovente. Até quando teremos que continuar clamando ao mundo contra o assassinato dos Guarani em luta pela seu espaço de vida em suas terras tradicionais? Ela pediu insistentemente que ajudassem a encontrar o corpo de seu filho. Nem que fossem só os ossos. Pediu que dessem segurança policial para que eles mesmos pudessem ir à área procurar. Acreditam que o corpo esteja próximo do local em que foi encontrado o corpo de Genivaldo. Esse foi também o pedido de Francisco, o pai de Genivaldo, em sua fala.
Após as falas emocionadas dos pais dos professores Guarani assassinados, Otoniel, vereador Kaiowá, do município de Caarapó, também fez um veemente apelo ao embaixador “Enquanto não demarcarem a terra vamos perdendo nossas lideranças… Quem defender o direito à nossa terras, está marcado para morrer. Eu estou ameaçado de morte. Queremos proteção para as lideranças e o povo Guarani. Não queremos mais sendo matados por causa da terra. Leve esse nosso sentimento ao presidente Lula. Queremos paz e solução”.
Havia uma ausência visível de homens na aldeia devido ao duro trabalho que estes fazem nas usinas da região. Todos os dias dezenas de ônibus saem da aldeia para mais um duro dia de trabalho no corte da cana, realidade que incide de maneira preocupante na estrutura social e familiar do Povo. Sem contar os inúmeros casos de violação dos direitos humanos e trabalhistas.
Dia de comemoração. Dia de reflexão. Momento de choro e protesto. Momento de grito e clamor. Não é possível deixar um dia de tão importante conquista da humanidade passar como se os direitos e a paz estivessem passeando
sossegadamente pelo mundo.
O Embaixador e os direitos Humanos
“O tema dos Direitos Humanos é muito importante para nosso país, e a União Européia. Por isso procuramos conhecer sempre mais as realidades em que vivem os povos e em que os direitos não são respeitados para dialogar com os governos a respeito”, falou o embaixador dos Países-Baixos no Brasil, Sr. Kess Pieter Rade em sua visita à aldeia Te’ yikue, no município de Caarapó, a
O embaixador, talvez o primeiro a visitar os Kaiowá Guarani, ouviu atentamente o clamor das lideranças, o sofrimento desse povo submetido a esse processo cruel e etnocida de violência. Ficou profundamente tocado e se comprometeu a falar a respeito com o presidente Lula, por ocasião do diálogo sobre direitos humanos.
Site Guarani – mais uma ferramenta de luta
A Campanha Povo Guarani, Grande Povo, Vida, Terra e Futuro, lançaram oficialmente mais uma importante ferramenta de luta do Povo Guarani Continental, na luta pelos seus direitos. Ainda com a presença do embaixador, na mesma aldeia em que foi lançada a Campanha/Movimento Povo Guarani, há mais de dois anos, foi lançado o portal eletrônico de comunicação do Povo Guarani (acesse aqui
A aldeia de Te’ Yikue possui um laboratório de informática com acesso a internet chamado “Ponto de cultura Teko
As amargas balas de borracha ou chumbo
“Os fazendeiros contrários às demarcações, estão se armando em alta escala, além de contratarem seguranças particulares fortemente armados, fato denunciado pela bancada do PT na AL/MS e por parte da imprensa local. O governo de Mato Grosso do Sul não pode ficar inerte diante desse clima de guerra.
Manifestamos nossa solidariedade aos povos indígenas ameaçados, a suas lideranças e parlamentares perseguidos, às famílias enlutadas das lideranças assassinadas, Rolindo Vera e Genivaldo Vera. Clamamos por justiça, pela identificação dos assassinos e eventuais mandantes, pela proteção federal às lideranças ameaçadas. “(Diretório Nacional do PT, BSB 8/12/2009 – Resolução sobre a demarcação das terras indígenas no Mato Grosso do Sul)
Um dia após essa importante manifestação do partido do presidente da República, os fazendeiros no Mato Grosso do Sul deram uma clara demonstração que sua decisão e linguagem são outra. Atacaram a bala e expulsaram ferindo várias pessoas de um dos tekohá retomados pelos Kaiowá Guarani no município de Tacuru, na fronteira com o Paraguai. Narrativas dramáticas de membros do grupo despejado nos dão conta de que a opção pela truculência, violência e mesmo assassinato é um fato cada vez mais freqüente no Mato Grosso do Sul.
Para esses senhores não existe lei, nem direitos humanos. Existem apenas interesses pessoais a serem defendidos a bala, pauladas e pontapés.
Egon Heck
Campanha Guarani Grande Povo