Nota de desagravo da ANAI à revista Época em defesa ao povo Tupinambá
Nota de desagravo do povo Tupinambá, alvo de matéria da Revista Época de 23/11/09, intitulada O Lampião Tupinambá: Quem é Babau, o Tupinambá que aterroriza o Sul da Bahia.
No último dia 23 de novembro, a Revista Época publicou matéria intitulada o “Lampião Tupinambá”, com a manchete de capa: Índio em Guerra: Quem é Babau o Tupinambá que aterroriza o sul da Bahia?
Tal matéria, como tantas outras que costumam ser veiculadas na mídia nacional, reveste-se de sensacionalismo e de uma clara preocupação com determinados interesses econômico-fundiários, ao tempo em que demonstra, por outro lado, profundo desconhecimento acerca dos processos políticos, identitários e culturais dos povos indígenas no Nordeste.
Rosivaldo Ferreira da Silva, o Cacique Babau, líder de destaque no cenário dos povos indígenas do Nordeste, foco da reportagem da Época, representa 130 famílias tupinambás da Serra do Padeiro que vêm se destacando pelo crescente fortalecimento da sua cultura e luta pelo direito à terra de seus antepassados, da qual foram historicamente esbulhados. Essa luta está intrinsecamente relacionada ao culto aos encantados, a própria localidade da Serra do Padeiro sendo considerada, pelos índios aí estabelecidos, como morada dos encantados. É oportuno lembrar que os Tupinambá (da Serra do Padeiro, no município de Buerarema, e de Olivença, município de Ilhéus) são descendentes de famílias indígenas do aldeamento jesuítico de Nossa Senhora. da Escada de Olivença, criado no século XVII para reunir índios sobretudo das etnias Tupinambá/Tupiniquim, tradicionais habitantes da região costeira de Ilhéus.
A história Tupinambá é fortemente marcada por espoliações de terra, massacres e torturas e pela atuação destacada de grandes protagonistas, símbolos da resistência indígena, a exemplo de Marcelino José Alves, “o caboclo” Marcelino, que, no período compreendido entre 1929 – 1936, foi vítima de perseguição policial e considerado o inimigo público número um do sul da Bahia, sendo comparado — assim como o cacique Babau o é, hoje — ao bandido social Lampião, e suas ações às da Coluna Prestes e do líder Luis Carlos Prestes, numa época em que o comunismo era considerado o terror vermelho. A imprensa do período tratava-o ora como um bugre (índio não domesticado/selvagem), ora com um bandido comum, não índio, que pretendia se fazer passar por tal motivado por interesses escusos.
É lamentável que em pleno século XXI a imprensa continue utilizando as mesmas práticas de criminalização de valorosos líderes indígenas, mediante rótulos que ao tempo em que os estigmatizam, defendem os interesses de latifundiários e grandes “empreendedores”, tais como aqueles que fizeram de Olivença, no passado, uma estância hidromineral para o lazer das famílias abastadas de Ilhéus e adjacências, às custas da expulsão dos Tupinambá.
Reafirmamos, nesta oportunidade, o nosso apoio incondicional à luta Tupinambá por seu território tradicional, assim como saudamos o povo Tupinambá e seus líderes.
Salvador da Bahia, 04 de Dezembro de 2009
Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ)
Programa de Pesquisas Sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro (PINEB/UFBA)