16/07/2009

Informe nº. 872: Encontro discute ensino superior para os indígenas no Brasil

 

Cerca de 500 indígenas estão reunidos desde 14 de julho até amanhã (17 de julho) no 1º Congresso Brasileiro de Acadêmicos, Pesquisadores e Profissionais Indígenas, em Brasília. Eles pretendem subsidiar a construção de uma política pública para a educação superior dos indígenas, que enfrente os principais desafios da área, entre eles, a permanência dos estudantes nas universidades e a manutenção dos vínculos culturais dos acadêmicos e profissionais com as comunidades de origem.

 

 

Participam do encontro lideranças de organizações e comunidades indígenas, diferentes “sabedores” indígenas (pajés, artesãos, especialistas em construções de canoas, músicos, cantores, pintores, artistas plásticos, desenhistas, escritores); estudantes e pesquisadores indígenas,  e técnicos e profissionais indígenas (advogados, antropólogos, pedagogos, professores, agentes de saúde, agentes ambientais, comerciantes…).

 

A partir de trocas de experiências e saberes, o evento traz elementos de um congresso científico e dos encontros eventos tradicionais indígenas. Os grupos temáticos -“saberes e fazeres” estão discutindo, desde ontem, o significado de estar no ensino superior e como superar obstáculos.

 

Para Sandro Emanuel, do povo Tuxá (Bahia), um dos principais desafios para a formação superior dos indígenas é a permanência deles nos cursos. O ingresso no ensino superior tem crescido nos últimos anos, por meio de políticas de cotas para indígenas e negros e por causa dos cursos de licenciatura indígena realizados em diversos estados. No entanto, muitos casos de abandono já foram relatados no Congresso. “A primeira dificuldade é o choque cultural. É preciso se acostumar à vida na universidade, a outro jeito de ser, de aprender…”, descreve Sandro. Além disso, também falta assistência para que os indígenas consigam se manter durante o curso.

 

Os indígenas também devem cobrar do Ministério da Educação adaptações em grades curriculares, como na do curso de Direito, para que os direitos indígenas sejam melhor estudados pelos futuros advogados, juízes, promotores…

 

Outro desafio a ser enfrentado é a manutenção do vínculo dos acadêmicos e profissionais indígenas com seu povo. Segundo Sandro Tuxá, as lideranças tradicionais se preocupam com os a formação que os indígenas recebem nas universidades, pois ela tende a encaminhar os formandos para o mercado de trabalho de forma individual. “Nós valorizamos os nossos estudantes, mas temos que cuidar para que eles revertam para o bem de toda a comunidade o conhecimento que eles recebem. É preciso manter essa visão coletiva, os valores culturais”, avalia Sandro.

 

Amanhã (17/7), os participantes irão aprovar um documento com as propostas do evento, que será apresentado em um painel dirigido para autoridades governamentais ligadas ao ensino superior no Brasil.

 

O Congresso é uma realização do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas (Cinep) em parceria com o Departamento de Antropologia – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília (UnB). Conta com o apoio do Laboratório de Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED), Fundação Nacional do Índio (Funai), Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD/Ministério da Educação-MEC e Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB).

 

 

Brasília, 16 de julho de 2008

Conselho Indigenista Missionário

Fonte: Cimi
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