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Nossa voz é a resistência: 4 mil mulheres indígenas ocupam Brasília no dia 7 de setembro

Mulheres indígenas na mobilização em defesa dos direitos dos povos originários, em Brasília. Foto: Cícero Bezerra

Mulheres indígenas na mobilização em defesa dos direitos dos povos originários, em Brasília. Foto: Cícero Bezerra

Por assessoria de Comunicação da Anmiga

Brasília, 07/09/2021 – Mais de 4 mil mulheres de seis biomas brasileiros já estão em Brasília para a II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, acampadas no gramado da Funarte, no Eixo Monumental, até o dia 11 de setembro.

No primeiro dia do encontro, organizado pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga [1]), as lideranças indígenas femininas da Amazônia, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e dos Pampas foram credenciadas e testadas para a Covid-19, dentro da parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz DF e RJ), o Ambulatório de Saúde Indígena da Universidade de Brasília, a Secretaria de Saúde do DF e o Hospital Universitário de Brasília. Profissionais de saúde indígena estão acompanhando as delegações, que vão novamente ser submetidas aos testes ao final do encontro. Todas as participantes estão imunizadas para a covid e a apresentação do cartão de saúde é obrigatória.

“Isso é só o começo de uma narrativa do fazer diálogo coletivo pelas vozes de elas entre elas. Mais e mais mulheres vão se juntar à luta para defender e preservar nossos territórios de invasões, de madeireiros e de garimpeiros”, resume a cacica Kôkôba Mekrãgnotire em sua língua. A diversidade de línguas indìgenas é marcada pela voz de uma jovem tradutora  e jovem comunicadora NGreiran Kayapó, de 18 anos, que acompanha a primeira cacica da TI Menkragnoti, no sul do Pará, e que é preparada desde a infância para suceder o avô cacique, em sua aldeia, na Amazônia.

Como NGreiran, várias jovens são a continuação de vozes das primeiras gerações de líderes femininas, traduzindo e facilitando as discussões em torno do tema “Mulheres originárias: Reflorestando Mentes para a Cura da Terra”, que valoriza as ações das mulheres indígenas ao longo do encontro e que é retratada com a imagem de uma indígena grávida cujas pernas e pés são raízes, simbolizando que as mulheres carregam força ancestral.

O dia transcorreu com calma no acampamento, depois de uma noite de apreensão, com manifestações a menos de 3km do local do espaço de encontro das mulheres, na Esplanada dos Ministérios, realizadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O acampamento conta com segurança realizada por indígenas mulheres e por seguranças profissionais e, apesar de muito barulho e manifestações racistas durante toda a noite, não houve incidentes.

Segurança

Uma série de provocações racistas contra os povos, promovidas por grupos bolsonaristas, ameaçam as mobilizações indígenas na capital desde o dia 22 de agosto, quando se iniciou o acampamento Luta Pela Vida. Denunciando a agenda anti-indígena do governo federal e Congresso Nacional, mais de 150 povos de todas as regiões do Brasil ocupam Brasília durante o mês de setembro.

Ainda na Praça dos Três Poderes, na semana que antecedeu a II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, um grupo de apoiadores do governo de Jair Bolsonaro precisou ser retirado por policiais militares, pois estavam praticando atos racistas contra os indígenas.

Com o início da Marcha, essas ameaças passaram a ocupar redes sociais de deputados e senadores da base aliada ao governo. Nas redes sociais, o presidente da Embaixada do Comércio do Brasil e organizador de protestos pró-Bolsonaro, Jackson Vilar, ameaçou derramar sangue de indígenas em Brasília durante o julgamento do Marco Temporal, que ocorre amanhã, dia 8 de setembro.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e todas as suas organizações reforçam que o propósito da mobilização em Brasília é protestar de forma pacífica por direitos e acompanhar o julgamento no STF, em apoio aos ministros e ministras do Supremo e contra a tese do “Marco Temporal”. Todos os ataques que se enquadram em crimes de racismo, injúria, calúnia e difamação serão devidamente denunciados para que sejam tomadas medidas cabíveis, bem como as condutas de intimidação e ofensas.

Julgamento

Nesta quarta-feira (8), as lideranças femininas de norte a sul do país vão acompanhar a retomada do julgamento do “marco temporal” [2], interrompido pela Corte no último dia 26, direto da tenda principal da II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, no acampamento montado no espaço da Funarte.

No dia 9 de setembro,  será realizada a  II Marcha, que trará como ato político as principais pautas defendidas por mulheres indígenas de todo país, em defesa dos biomas, da biodiversidade, contra o Marco Temporal e toda agenda anti-indígena promovida pelo Governo Federal e Congresso Nacional.

Confira a programação completa da II Marcha Nacional de Mulheres Indígenas: https://anmiga.org/marcha-das-mulheres/ [3]