28/05/2020

Moradores da aldeia Murutinga (AM) estão em alerta com chegada da covid-19

Um homem havia sido tratado de uma suposta virose pela equipe de saúde local. Mais tarde, teria voltado a sentir sintomas associados à doença. Desta vez, o teste para covid-19 deu positivo

Na aldeia Murutinga, indígenas Mura iniciaram o isolamento social e reservaram uma área para a quarentena de pessoas vindas de Manaus ou das cidades do entorno. Crédito da Foto: Cimi Regional Norte I AM/RR

Por J.Rosha, da Assessoria de Comunicação – Cimi

Na última quinta-feira, 21, foi identificado o primeiro caso de covid-19 na aldeia Murutinga, na Terra Indígena Murutinga/Tracajá, do povo Mura, em Autazes (AM). A informação causou apreensão entre os moradores. As lideranças sugeriram adotar o isolamento social e restringir a saída de indígenas para pescar como forma de evitar a propagação da doença.

Um homem havia sido tratado de uma suposta virose pela equipe de saúde local. Mais tarde, teria voltado a sentir sintomas associados à doença. Desta vez, o teste para covid-19 deu positivo. Ele havia saído dias antes da aldeia para a cidade de Manaus.

Murutinga é uma das quatro aldeias localizadas na Terra Indígena localizada a cerca de 100 quilômetros da capital. A aldeia fica em uma ilha, onde moram mais de 600 famílias do povo Mura, com uma população superior a três mil pessoas, segundo dados do Polo Base que atende a saúde na região. Está a menos de dois quilômetros da Vila do Novo Céu, onde já havia informação da existência de pelo menos três casos de pessoas infectadas pela covid-19.

A situação dos moradores é extremamente precária e não tem sido tratada com a devida atenção pelo Poder Público. Ao longo dos anos, o povo Mura foi fortemente atingido pelas frentes de colonização, sobretudo por fazendeiros e posseiros que dividiram o território indígena, levando-os a viver confinados em pequenas áreas.

A aldeia Murutinga é um exemplo desse processo. É uma área pequena, com muitos habitantes, que não tem espaço suficiente para desenvolver roças para todos. Em alguns lugares, no interior da ilha, os indígenas desistiram de plantar porque seus roçados eram destruídos por búfalos dos fazendeiros das redondezas.

Com o aumento populacional na aldeia, aumentam também as dificuldades. A água encanada chega na maioria das casas, mas as condições sanitárias são extremamente precárias. Os sanitários são compartilhados por várias famílias, principalmente nos locais onde há cerca de dez anos foram construídas pelo Poder Público pequenas  casas com espaço estreito entre elas.

Com surgimento do primeiro caso de covid-19, os moradores ficaram apreensivos. O homem que testou positivo, de 63 anos, está em tratamento no Hospital Delphina Aziz, em Manaus. A família dele vem recebendo ajuda de outros moradores com alimentação. Porém, os indígenas se ressentem da falta de medicamentos para tratar outras doenças que são comuns nessa época do ano e de equipamentos de proteção, como máscaras e álcool gel.

Em Murutinga funciona um Polo Base, que é um centro de atendimento à saúde para 11 aldeias do município do Careiro e outras quatro existentes na Terra Indígena Murutinga/Tracajá (Terra Preta, Tauari, Patauá e Caranaí).

De acordo com informação prestada pela professora Amélia Braga Cabral, a escola da aldeia foi adaptada para receber as pessoas que se deslocam para Autazes, Careiro ou Manaus e ali ficam sob quarentena por 15 dias. “Hoje tem mulheres grávidas que tiveram bebê em Autazes. Tem também em isolamento um homem de 55 anos com suspeita de covid-19. Ele está sendo assistido pelos servidores da saúde”, explica Amélia Braga.

Fonte: Por Assessoria de Comunicação - Cimi
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