
31º Grito dos Excluídos, em Manaus, pelos cinco anos de impunidade do massacre do rio Abacaxis. Registro de 2025. Foto: Arquidiocese de Manaus (AM)
“Continuamos a sonhar e teimar por justiça junto com nossas irmãs e irmãos que tiveram seus direitos fundamentais à vida, à integridade física e psicológica totalmente violados pelo próprio estado do Amazonas, nas pessoas de seus agentes. Só haverá justiça se os autores dos crimes contra os indígenas e ribeirinhos forem regularmente PROCESSADOS e JULGADOS”.
Tal sonho e teimosia estão expressos no “Manifesto por Memória e Justiça para Vítimas e Familiares do Massacre do Abacaxis”, lançado pelo Coletivo de Organizações da Sociedade Civil, que acompanha o caso desde o início, por ocasião do Grito dos Excluídos 2025, realizado no dia 05 de setembro, em Manaus, e difundido a toda a sociedade.
“Na faixa os nomes das vítimas do Massacre do Rio Abacaxis representam o clamor por justiça”

31º Grito dos Excluídos, em Manaus, pelos cinco anos de impunidade do massacre do rio Abacaxis. Registro de 2025. Foto: Cimi Regional Norte 1
No documento, o Coletivo resgata a história do massacre cometido, há cinco anos, contra indígenas e ribeirinhos, moradores das comunidades ao longo dos rios Abacaxis e Mari-Mari, entre os municípios de Borba e Nova Olinda do Norte, por agentes da secretaria de Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas.
Em agosto de 2020, “em plena pandemia de covid-19, uma operação de vingança e extermínio da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas aterrorizou, torturou e matou impiedosamente ribeirinhos e indígenas”, relembra o manifesto, afirmando que só após o “clamor por parte das vítimas e familiares do Massacre e permanente luta da sociedade civil por justiça”, a Polícia Federal indiciou treze policiais militares.
“Coletivo resgata a história do massacre cometido, há cinco anos, contra indígenas e ribeirinhos por agentes do Estado”

28º Grito dos Excluídos, em Manaus, pelos dois anos de impunidade do massacre do rio Abacaxis. Registros de 2022. Foto: Lígia Apel / Cimi Regional Norte I
No entanto, ainda tramitam três ações penais no juízo da 2ª Vara da Justiça Federal no Amazonas contra onze destes policiais por envolvimento direto “na morte dos dois indígenas Munduruku, Josimar e Josivan Lopes, de uma família ribeirinha inteira, Anderson, Vandrelânia e Mateus, e dos ribeirinhos Benahim e Eligelson”.
Entre os denunciados à Justiça Federal pelo Ministério Público Federal (MPF), em janeiro desse ano, estão “o ex-secretário de Segurança Pública, coronel Louismar Bonates, e o ex-comandante-geral da Polícia Militar no Amazonas, coronel Ayrton Norte, que comandou pessoalmente a operação em 2020”, destaca o manifesto, informando que os crimes que todos os réus respondem são por “homicídio qualificado, ocultação de cadáver, sequestro e cárcere privado”.
“São cinco anos de memória e luta por justiça, que a memória deste passado nos ajude a construir o projeto de país”

Comunidade Pilão, do povo Maraguá, no Rio Abacaxis. Foto: Cimi Regional Norte 1
As organizações também afirmam que “atualmente, as ações penais estão suspensas por decisão da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal, em razão de habeas corpus impetrado pelo ex-secretário de Segurança Pública, contestando a competência do juízo da 2ª Vara para julgá-lo”, o que tem impedido o avanço da justiça em seguir com as investigações.
Mas, a resistência e o clamor por justiça continuam. O coletivo das organizações e, especialmente, as famílias que tiveram suas vidas impactadas pela truculência de agentes do estado e inoperância na conduta de seus instrumentos de segurança, dará prosseguimento à exigência por justiça e direito à vida, assim como para a construção de um Brasil digno, que honra suas leis e respeita seu povo.
“A as ações penais estão suspensas por decisão da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal o que tem impedido o avanço da justiça em seguir com as investigações”

Terra Indígena Kwatá Laranjal no Rio Abacaxis, no Amazonas. Foto: Funai
“São cinco anos de memória e luta por justiça. Que a memória deste passado nos ajude a construir o projeto de país no qual as comunidades tradicionais e os povos indígenas, em particular no Amazonas, tenham direito a viver protegidos em seus territórios, conforme garantem as normas nacionais e internacionais assumidas pelo Brasil”.
Durante a 31º Grito dos Excluídos e das Excluídas em Manaus, realizado no dia 5 de setembro deste ano, as vítimas do Massacre do Rio Abacaxis foram lembradas com seus nomes impressos em uma faixa. Com o tema “Vida em Primeiro Lugar” e o lema “Cuidar da casa comum e da democracia é luta de todo dia”, está edição do evento em Manaus deu voz a grupos que lutam por cidadania, justiça social, vida digna e oportunidades iguais.
Leia o Manifesto por memória e justiça para vítimas e familiares do Massacre do Abacaxis [1].