
Cerca de mil pessoas participam da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Prelazia de Tefé (AM), realizada entre os dias 09 a 13 de julho, em Alvarães (AM). Foto: Raimundo Francisco / Cimi Regional Norte 1 – Equipe Tefé
“Do coração da Amazônia, território sagrado e ferido, fazemos ecoar um grito de alerta, esperança e de libertação, diante da iminente votação do Projeto de Lei 2159/2021, conhecido como PL do Licenciamento Ambiental, o PL da Devastação”.
Esse foi o grito de alerta dos, aproximadamente, mil participantes da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Prelazia de Tefé realizada entre os dias 09 a 13 de julho deste ano, em Alvarães (AM), região do Médio rio Solimões. O encontro teve como tema “Uma Igreja Sinodal em Saída: Vida Plena e Missão”.
“Carta do povo de Deus na Amazônia para todos os brasileiros é um apelo pela Vida, pela Casa Comum e contra o PL da Devastação”

Cerca de mil pessoas participam da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Prelazia de Tefé (AM), realizada entre os dias 09 a 13 de julho, em Alvarães (AM). Foto: Pascom / Paróquia São Benedito
“Vindos de comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas, de áreas urbanas e rurais, pescadores e pescadoras artesanais, trabalhadores e trabalhadoras rurais, bispos, padres, religiosos e religiosas, agentes de pastoral, cristãos leigos e cristãs leigas comprometidos com o Evangelho e com a vida, filhos e filhas da terra, das florestas, das águas dos rios Solimões, Japurá, Juruá e Jutaí e seus afluentes, guardiãs e guardiões dos seus ecossistemas e territórios, representaram as 14 paróquias e três áreas missionárias de dez municípios da Prelazia de Tefé”, lista a Carta do povo de Deus na Amazônia [1] para todos os brasileiros: Apelo pela Vida, pela Casa Comum e contra o PL da Devastação, escrita com a força das várias mãos, mentes e corações unidos na Assembleia.
Inspirados na fé cristã e no compromisso com a justiça, os participantes reafirmaram sua esperança na Palavra que orienta: “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para o cultivar e guardar” (Gn 2,15). Na encíclica Laudato Si, com o Papa Francisco, reconheceram que “estão intimamente ligadas a degradação ambiental e a degradação humana e ética” (Laudato Si’, n. 56), e que tudo está interligado: a terra, as águas, as comunidades, os seres vivos e a espiritualidade.
“Estão intimamente ligadas a degradação ambiental e a degradação humana e ética”

Cerca de mil pessoas participam da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Prelazia de Tefé (AM), realizada entre os dias 09 a 13 de julho, em Alvarães (AM). Foto: Raimundo Francisco / Cimi Regional Norte 1 – Equipe Tefé
O Papa Leão XIV, em mensagem ecoada no Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, lembra que “num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade”, e nos exorta a sermos “sementes de esperança”, mesmo em meio aos desafios que enfrentamos.
A CEBs da Prelazia de Tefé se unem à nota da CNBB sobre o PL do Licenciamento Ambiental [2], que é clara quando diz que o Congresso Nacional, instituição que deveria primar pela preservação da vida, aprovar o PL, “o que se aprova na prática é a institucionalização da flexibilização dos mecanismos de proteção da vida, das águas, das florestas e dos povos originários e comunidades tradicionais”.
“Com o PL da Devastação é na prática é a institucionalização da flexibilização da proteção da vida, das águas, das florestas e dos povos e comunidades tradicionais”

Cerca de mil pessoas participam da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Prelazia de Tefé (AM), realizada entre os dias 09 a 13 de julho, em Alvarães (AM). Foto: Raimundo Francisco / Cimi Regional Norte 1 – Equipe Tefé
Com essas bases orientadoras, as CEBs da Prelazia de Tefé, reconhecem que o PL é um caminho que levará o Brasil à destruição ambiental e humana. “Esse projeto representa uma grave ameaça à Casa Comum, pois pretende enfraquecer drasticamente o controle social e ambiental sobre grandes empreendimentos, permitindo a dispensa de licenciamento para atividades de alto impacto ambiental; o fracionamento dos processos, dificultando a avaliação real dos danos; a redução ou eliminação da consulta aos povos indígenas e comunidades tradicionais; o enfraquecimento dos órgãos ambientais”, afirmam as CEBs na Carta aos brasileiros.
Integrando a Assembleia e somando esforços na resistência ao PL, o missionário Raimundo Francisco, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Equipes Tefé e Juruá, reafirmou que o momento foi de fortalecimento da caminhada de defesa da sociobiodiversidade em uma região de vasta extensão geográfica e grande diversidade de comunidades tradicionais – ribeirinhas, quilombolas e indígenas.
“CEBs da Prelazia de Tefé, reconhecem que o PL é um caminho que levará o Brasil à destruição ambiental e humana”

Cerca de mil pessoas participam da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Prelazia de Tefé (AM), realizada entre os dias 09 a 13 de julho, em Alvarães (AM). Foto: Raimundo Francisco / Cimi Regional Norte 1 – Equipe Tefé
“Foi um momento de fortalecer a caminhada dessa Prelazia que é tão extensa geograficamente e que vive a sua fé em contexto amazônico. [As CEBs] se reúnem para avaliar, aprender e fortalecer a sua mística, sua espiritualidade. Foi um momento muito rico de aprendizado, partilha e vivência de uma Igreja que busca ser ‘em saída’ e estar mais próxima dos irmãos e irmãs mais distantes, que vivem dentro da nossa floresta amazônica, dentro dos territórios”, profetizou, ao destacar a Carta da Assembleia. Denunciar o PL da Devastação, é “sinal de que o cuidado com a Casa Comum é dever de todos nós e temos que combater todo tipo de mecanismo que venha contra esse cuidado e contra a natureza”, concluiu Raimundo.
Para Dom José Altevir da Silva, Bispo da Prelazia de Tefé e presidente do Conselho Pastoral dos Pescadores e Pescadoras (CPP), a Carta é “um apelo pela vida, é realmente um apelo pela Casa Comum, contra tudo o que ameaça o ser humano e o meio ambiente. É um projeto de morte alimentado por um capitalismo selvagem que destrói tudo, aumenta cada vez mais as consequências terríveis das mudanças climáticas, sem levar em conta a vida e a saúde do planeta”. Ele afirma que “o planeta pode até existir sem nós, mas nós não viveremos sem o planeta e esses projetos de morte não levam em conta isso”, alertou Dom José.
“Foi um momento de fortalecer a caminhada dessa Prelazia que é tão extensa geograficamente e que vive a sua fé em contexto amazônico”

Cerca de mil pessoas participam da VI Assembleia das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), Prelazia de Tefé (AM), realizada entre os dias 09 a 13 de julho, em Alvarães (AM). Foto: Raimundo Francisco / Cimi Regional Norte 1 – Equipe Tefé
Por sua vez, Dom Altevir, anfitrião da Assembleia, havia acolhido as CEBs dizendo que aquele encontro se concretizava como um “tempo de escuta, de partilha, oração e discernimento, onde o Espírito Santo sopra e nos guia na missão. [Nessa Assembleia] reafirmarmos o protagonismo do povo de Deus, reacendendo o compromisso com o Reino de Deus no coração da Amazônia”, conclamou a todos, reascendendo as esperanças e a resistência. Ele lembra da força que move as comunidades amazônicas: “É tempo de celebrar a vida, a resistência e a esperança que brota no chão das comunidades. Os rios que abrigam os sonhos de cada jovem, criança, adulto, idoso”, exaltou.
Ao finalizar a Carta, as CEBs foram unânimes em dizer que “aceitar a destruição do meio ambiente e apoiar o PL da Devastação é trair o sonho de Deus para a humanidade”, e que, enquanto cristãos e cristãs que receberam um mundo cheio de vida, a missão é “cuidar, cultivar e proteger com reverência e que os planos de Deus para a Casa Comum, planos de paz, beleza e cuidado, não sejam destruídos pela ganância de poucos em detrimento da dignidade de muitos”.
O povo de Deus na Amazônia endereça a Carta a “todas as pessoas de paz e boa vontade, com esperança, profecia, coragem e libertação”.