Typju Myky se pronunciou na semana passada, dia 23 de abril, durante Diálogo Temático da 24ª Sessão do Fórum Permanente das Nações Unidas sobre Questões Indígenas (UNPFII), que acontece até o próximo dia 2 de maio na sede da ONU, em Nova Iorque (EUA).
Esta sessão do Fórum Permanente tem como tema: “Implementando a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas nos Estados-Membros da ONU e no sistema ONU, incluindo a identificação de boas práticas e a abordagem de desafios”.
Trata-se de um momento histórico: é a primeira vez que o povo Myky se dirige à comunidade internacional no Fórum Permanente. Typju, cineasta de 28 anos, vive na aldeia Japuíra, na Terra Indígena que fica a 53 km do município de Brasnorte, no norte do Mato Grosso.
“Exigimos que se retome imediatamente o processo para que se garanta os nossos direitos e para que haja vida e dignidade para todos os seres que habitam os mais de 100 mil hectares em nosso território na Amazônia”, diz Typju Myky
Demarcada ainda na década de 1970, o procedimento de delimitação da Terra Indígena do povo Myky teve uma série de irregularidades e ilegalidades. Razão pela qual precisou ser refeito a partir de 2007, sendo paralisado em 2022 pelo governo Bolsonaro.
No Fórum Permanente, Typju denunciou a violação pelo Estado brasileiro da Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas (UNDRIP, na sigla em inglês) no caso Myky e exigiu a retomada do procedimento demarcatório pelo atual governo.
Leia o pronunciamento na íntegra:
Olá, meu nome é Typju Myky.
É uma alegria estar aqui participando neste Fórum com tantos povos indígenas que mostram sua força, respeito e dignidade. Hoje trago comigo, pela primeira vez na história, mensagens sobre as lutas do povo Myky.
Tendo em conta a necessidade de implementar a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, no artigo 4 temos o direito à autodeterminação, mas para se efetivar, base fundamental de todos os direitos indígenas, precisamos estar em nosso território.
Vivemos na Amazônia brasileira e somos sobreviventes de muitos massacres e enfermidades que reduziram nosso povo a nove pessoas. Nosso contato com a sociedade brasileira foi em 1971. Pouco depois, nosso território foi invadido, demarcado ilegalmente, por seu primeiro invasor: fazendeiro que demarcou seus limites de acordo com seus interesses.
Naquele momento não falávamos português e o governo brasieliro não nos participou do processo de demarcação. Como resultado, deixaram fora lugares sagrados que eram essenciais para garantir nossa sobrevivência física e cultural.
Finalmente em 2007 tivemos o direito a um estudo adequado reconhecendo que a terra foi invadida. A terra foi identificada em 2012, mas em 2022 o governo brasileiro continuava com o processo de demarcação e o ministro da Justiça de Bolsonaro cancelou o procedimento, que permanece cancelado no atual governo.
Por isso exigimos que se retome imediatamente o processo para que se garanta os nossos direitos e para que haja vida e dignidade para todos os seres que habitam os mais de 100 mil hectares em nosso território na Amazônia.
Obrigado!