A retomada tekoha Yvyju Avary voltou a ser atingida na manhã desta quarta-feira (23) por agrotóxicos pulverizados pelos tratores da fazenda sobreposta ao território tradicional Avá-Guarani. Situada nos limites da Terra Indígena Guasu Guavirá, entre os municípios de Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná, a área sofreu ataque no último dia 17 [1]. Na ocasião, além de atirar contra os indígenas da aldeia, o bando armado também despejou veneno sobre a comunidade.
Conforme a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), em face da opção dos ocupantes não indígenas pelos ataques químicos contra a comunidade, o desembargador Fernando Prazes, da Câmara de Conciliação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), intermediou um acordo entre as partes para que o fazendeiro respeitasse os limites da retomada e passasse os agrotóxicos na lavoura apenas com a presença da Força Nacional e longe das moradias e espaços de circulação dos Avá-Guarani. O bando, escoltado pela Polícia Militar (PM), tentou retirar as marcações dos limites.
“Estamos em guerra, essa é a verdade. O fazendeiro não respeita os acordos. Mais uma vez ele jogou veneno nas nossas casas e não fez isso com a Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), mas os tratores foram escoltados pela Tropa de Choque da Polícia Militar. Dr. Fernando veio e mostrou os limites, mas ele não respeitou isso”, declarou um indígena de Yvyju Avary – não identificada por razões de segurança. Os indígenas denunciam ainda que pessoas não identificadas estão deixando doces supostamente envenenados em ponto de ônibus com circulação de crianças e jovens Avá-Guarani.
Para a CGY, a Polícia Militar segue fazendo segurança privada sob as vistas do Estado. “Tem a Força Nacional aqui para cuidar da segurança, mas a Polícia Militar vive entrando na área. Não confiamos porque já nos tacaram, já atiraram contra a gente. Precisa que a Polícia Militar não venha mais, seja retirada da Terra Indígena”, ressalta o indígena. Ele salienta que apesar da situação, a comunidade não irá se retirar da retomada.

Na imagem, uma caixa com doces deixada em local frequentado por crianças Avá-Guarani. Indígenas suspeitam que estejam envenenados. Foto: Comunidade Avá-Guarani
RCID publicado desde 2018
A TI Guasu Guavirá tem o Relatório Circunstanciado de Delimitação e Identificação (RCDI) publicado desde 2018, mas a demarcação propriamente dita está paralisada. São cerca de 21 tekohas e sete retomadas, entre elas Yvyju Avary, em três áreas que juntas contabilizam 24 mil hectares de território tradicional reivindicado. A violência contra as retomadas teve uma escalada neste ano a partir de uma série de ataques iniciados no final de 2023.
Desde julho, as comunidades da TI Tekoha Guasu Guavirá sofreram uma série de ataques armados [2], que deixaram barracos destruídos [3], pelo menos dois indígenas feridos por atropelamentos propositais [4] e sete por disparos de arma de fogo [5], quatro com mais gravidade. A violência contra as comunidades motivou a manutenção a Força Nacional na região, além de idas de autoridades do governo federal e de uma Missão de Direitos Humanos [6] ao território.