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Após assassinato de Alex Guarani Kaiowá, Aty Guasu publica carta com pedido de justiça

Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos, assassinado em Coronel Sapucaia (MS) ao buscar lenha próximo à reserva Taquaperi. Foto: arquivo pessoal

Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos, assassinado em Coronel Sapucaia (MS) ao buscar lenha próximo à reserva Taquaperi. Foto: arquivo pessoal

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Após o assassinato do jovem Alex Recarte Vasques Lopes, de 18 anos, ocorrido no último sábado (21), a Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani Kaiowá publicou uma carta [1] lamentando o episódio e também o vasto histórico de violência de fazendeiros contra indígenas do povo Guarani Kaiowá.

De acordo com lideranças da comunidade, Alex teria deixado a reserva Taquaperi, em Coronel Sapucaia (MS), para buscar lenha numa área do entorno da terra indígena (TI). No local, teria sido assassinado, e seu corpo teria sido abandonado no Paraguai – em uma área a menos de dez quilômetros dos limites da reserva indígena.

“Alex, menino de 18 anos, cheio de sonhos, como as demais crianças e jovens lutavam – porque, no MS [Mato Grosso do Sul], para um Kaiowá viver é lutar – para ter um futuro em meio à violência e genocídio que nos cerca. Ele é o quarto da família extensa Lopes que é assassinado em Coronel Sapucaia desde 2007, em uma sequência de ataques que nunca para e que nunca parou contra nossos territórios”, diz um trecho da carta da Aty Guasu.

 

Vasto histórico de violência

O município de Coronel Sapucaia, separado da cidade de Capitán Bado, no Paraguai, registra um longo histórico de violência contra lideranças do povo Guarani Kaiowá. Conforme mostra uma matéria [2] publicada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no dia 22 de maio, em apenas dois anos foram assassinadas três importantes lideranças do tekoha Kurusu Amba, também localizado no município: a rezadora Xurite Lopes, em 2007, e as lideranças Ortiz Lopes, também em 2007, e Oswaldo Lopes, em 2009 – todos até hoje impunes.

Assim como a matéria do Cimi, a carta da Aty Guasu recordou o caso do jovem Denilson Barbosa [3] – situação similar ao de Alex Lopes. Em 2013, Denilson foi assassinado por um fazendeiro quando pescava com amigos numa propriedade vizinha ao tekoha Pindo Roky – incluído no perímetro da TI Dourados – Amambaupegua I. A terra indígena foi identificada e delimitada em 2016 pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e está com seu processo demarcatório paralisado desde então.

“Em nossa busca incansável por esta senhora [Justiça], não menosprezamos a sua esfera Estadual, e a qualidade de seus promotores, mas precisamos dizer que se este caso [do Alex Lopes], como aconteceu com Denilson Barbosa – outro jovem assassinado em Caarapó – acabar novamente nas mãos do Estado, estaremos condenados a ver ser estendido o genocídio sofrido por nosso povo, uma mortalha ou um pano tal qual hoje cobre o corpo de Alex”, afirmam as lideranças das Aty Guasu em carta.

“Se mais este caso [de Alex Lopes] acabar novamente nas mãos do Estado, estaremos condenados a ver ser estendido o genocídio sofrido por nosso povo”

À esquerda, Nízio Gomes Guarani Kaiowá durante edição do Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília. O indígena foi assassinado em 2011 por um consórcio operado pela Gaspem. Foto: Arquivo/Cimi

Todos os casos mencionados acima possuem elementos em comum: além da impunidade dos autores dos crimes, guardam relação com a situação de confinamento e morosidade na demarcação das terras Guarani e Kaiowá, que inviabiliza o acesso a condições mínimas de subsistência e transforma o ato de circular por áreas reivindicadas e até reconhecidas como parte de seu território tradicional em ações perigosas e potencialmente fatais.

 

Protesto

Em protesto contra o assassinato do jovem Alex Lopes, o povo Guarani Kaiowá retomou uma fazenda no município de Coronel Sapucaia (MS), na fronteira com o Paraguai, na madrugada do último domingo (22).

No início da tarde de domingo, o acesso à retomada, denominada pelos indígenas de Tekoha Jopara, foi impedido por um bloqueio realizado por viaturas do Departamento de Operações de Fronteira (DOF). A barreira foi posicionada na rodovia MS-286, que atravessa a TI Taquaperi e também dá acesso a outras comunidades indígenas da região – que ficaram, na prática, isoladas.

Os Guarani Kaiowá cobram apuração federal do assassinato e temem ser alvo da violência de policiais e fazendeiros. A tensão no local ainda seguia na tarde da última segunda-feira (23): drones sobrevoaram a retomada e fazendeiros se reuniram na estrada, próximo ao local onde os Guarani Kaiowá estão acampados.

Veja a carta completa aqui [1].