21/09/2020

Regionais da CNBB lamentam “desmonte das instâncias de fiscalização” e cobram investigação sobre queimadas no Pantanal

Regionais Oeste 1 e 2 da CNBB cobram ações urgentes de combate aos incêndios no bioma, que já teve 12% da área queimada e enfrenta recorde histórico de focos de incêndio

Antes do final do mês, 2020 já tem setembro com maior quantidade de focos de incêndio no Pantanal desde que Inpe começou monitoramento, em 1998. Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

Antes do final do mês, 2020 já tem setembro com maior quantidade de focos de incêndio no Pantanal desde que Inpe começou monitoramento, em 1998. Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Em carta divulgada nesta sexta-feira (18), os Regionais Oeste 1 e 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestaram “profunda preocupação com as terríveis queimadas no Pantanal” e cobraram ações emergenciais para conter os incêndios.

Ressaltando a atuação das dioceses que compreendem a região pantaneira, os regionais da CNBB afirmam, na carta, lamentar “o desmonte das instâncias de fiscalização e punição”. “Denunciamos as providências insuficientes e tardias que favorecem este incêndio sem controle e que está queimando tudo e matando a Vida”, prossegue o documento.

Com os 15.973 focos de incêndio registrados no Pantanal pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apenas até o dia 21 de setembro, 2020 já é o ano com a maior quantidade de queimadas neste bioma desde o início do monitoramento, em 1998.

De janeiro a agosto, segundo o Inpe, 12% do Pantanal havia sido queimado – um total de 18,6 mil km². Esta cifra, entretanto, deve ser ainda mais catastrófica: a dez dias do final do mês, o setembro de 2020 já contabiliza a maior quantidade de queimadas desde que os registros começaram.

As terras indígenas do Pantanal também estão sendo duramente afetadas. O Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da UFRJ estima que as Terras Indígenas (TIs) Baía do Guató e Tereza Cristina, em Mato Grosso, tiveram mais de 80% de sua área queimada até o dia 13 de setembro.

Na TI Tereza Cristina, o povo Bororo teve que retirar das aldeias, às pressas, crianças, grávidas e idosos que apresentavam problemas de saúde em decorrência da fumaça. No Mato Grosso do Sul, o laboratório avalia que 188 mil hectares da TI Kadiwéu foram consumidos pelo fogo.

“Há um pedido de socorro, um grito que não quer e não pode se calar, dos humanos sensíveis e conscientes, das comunidades tradicionais, das populações indígenas, da terra, dos animais, das aves, das águas, das plantas, da vegetação nativa, de árvores centenárias”, escrevem os presidentes dos Regionais Oeste 1 e 2 da CNBB e os bispos das seis dioceses pantaneiras, cobrando que estes povos e comunidades sejam ouvidos e valorizados.

“As ações emergenciais são necessárias, mas não bastam; é preciso desenvolver e aplicar políticas públicas sérias de prevenção e de proteção a curto, médio e longo prazo”

A Polícia Federal investiga um grupo de fazendeiros sob suspeita de terem organizado um “Dia do Fogo” no Pantanal – à semelhança do que ocorreu, no ano passado, na região da BR-163, no Pará. Os cinco investigados seriam responsáveis, sozinhos, pela destruição de pelo menos 25 mil hectares.

Um levantamento da Agência Pública indicou que, no caso das terras indígenas atingidas pelo fogo no bioma, os focos de incêndio foram primeiro detectados pelos satélites nas propriedades privadas limítrofes, para, em seguida, se espalharem pelos territórios tradicionais.

“Reivindicamos que as autoridades se empenhem e se mobilizem com a máxima urgência e que seja feita uma investigação séria, responsabilizando e punindo os possíveis culpados com a reparação justa e necessária pelos danos causados”, afirmam os bispos na carta.

“As ações emergenciais são necessárias, mas não bastam; é preciso desenvolver e aplicar políticas públicas sérias de prevenção e de proteção a curto, médio e longo prazo”, cobram os regionais Oeste 1 e 2 da CNBB.

Confira, abaixo, a carta aberta, ou clique aqui para baixá-la em pdf:

18 de setembro de 2020

“A Criação geme e sofre dores de parto” (Rm 8,22)

Os Regionais Oeste 1 e Oeste 2 da CNBB, especialmente através de suas Dioceses pantaneiras: Diocese de Corumbá/MS, Diocese de Jardim/MS, Diocese de Coxim/MS, Diocese de São Luiz de Cáceres/MT e Diocese de Rondonópolis-Guiratinga/MT, registram profunda preocupação com as terríveis queimadas no Pantanal.

Manifestamos nossa solidariedade e compromisso com todos que estão sensibilizados e envolvidos com a causa ambiental: militares, bombeiros, brigadistas, servidores e voluntários, bem como os irmãos e irmãs ribeirinhos, pantaneiros e indígenas, que dependem diretamente deste bioma para sua sobrevivência. Lamentamos, ao mesmo tempo, o desmonte das instâncias de fiscalização e punição e denunciamos as providências insuficientes e tardias que favorecem este incêndio sem controle e que está queimando tudo e matando a Vida.

Há um pedido de socorro, um grito que não quer e não pode se calar, dos humanos sensíveis e conscientes, das comunidades tradicionais, das populações indígenas, da terra, dos animais, das aves, das águas, das plantas, da vegetação nativa, de árvores centenárias. E um clamor para que os povos tradicionais sejam valorizados e apoiados, a fim de continuarem sendo agentes de proteção e cuidado da natureza.

Reivindicamos que as autoridades se empenhem e se mobilizem com a máxima urgência e que seja feita uma investigação séria, responsabilizando e punindo os possíveis culpados com a reparação justa e necessária pelos danos causados. As ações emergenciais são necessárias, mas não bastam; é preciso desenvolver e aplicar políticas públicas sérias de prevenção e de proteção a curto, médio e longo prazo.

A Igreja se une num forte grito pela defesa, promoção e cuidado com a Vida, em todas as suas formas e expressões. É preciso conter e apagar o fogo que vai avançando com poder destruidor, e assim salvar o Pantanal.

“Hoje, a voz da criação incita-nos, alarmada, a regressar ao lugar certo na ordem natural, lembrando-nos que somos parte, não patrões da rede interligada da vida” (Papa Francisco)

Dom Dimas Lara Barbosa
Arcebispo de Campo Grande e Presidente do Regional Oeste 1

Dom Canisio Klaus
Bispo de Sinop e Presidente do Regional Oeste 2

Dom João Aparecido Bergamasco (Bispo de Corumbá)
Dom João Gilberto de Moura (Bispo de Jardim)
Dom Antonino Migliore (Bispo de Coxim)
Dom Jacy Diniz Rocha (Bispo de Cáceres)
Dom José Vieira de Lima (Bispo Emérito de Cáceres)
Dom Juventino Kestering (Bispo de Rondonópolis-Guiratinga)

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