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CNDH recebe indígenas e aprova nota de repúdio pelo uso da Força Nacional contra lideranças na sede da Funai

Mesmo com reunião marcada com presidente da Funai, povos do Xingu foram recebidos por Força Nacional na manhã desta quinta (12). Foto: Rede Xingu +

Mesmo com reunião marcada com presidente da Funai, povos do Xingu foram recebidos por Força Nacional na manhã desta quinta (12). Crédito da Foto: Rede Xingu +

Por Assessoria de Comunicação – CNDH

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) recebeu nesta quinta-feira, 12, em sua 56a Reunião Plenária, diversas lideranças indígenas de povos Tupinambá, Kayapó, Pataxó, Panara, Pataxó Hã-hã-hãe e Kamacã e representantes do Território Indígena do Xingu, que foram surpreendidas no início da manhã pela Força Nacional para impedir o legítimo exercício do direito de reunião e manifestação pacíficas no hall do prédio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em Brasília, onde acontecem as reuniões do conselho.

O cacique Mydier Kayapó relatou que as lideranças estão em Brasília há três dias para reivindicar seus direitos constitucionais. “Hoje viemos à Funai, mas vimos que a Força Nacional estava aqui. Eu me indignei porque me lembrei que muito tempo atrás o governo usava a Força Nacional e a Polícia Federal do nosso lado, para defender nossos direitos contra grileiros, garimpeiros e fazendeiros. Disse a eles: vocês que estão de farda são iguais a nós. Sua força está no escudo, no gás de pimenta. Nós só temos nossos cocares”, afirmou.

As diversas lideranças foram escutas pelos conselheiros, que ouviram apelos para que impeçam a aprovação de normativas que permitam a exploração de terras indígenas

“O governo atual quer ensinar os índios a usarem mercúrio, a desmatar, a poluir o rio, a jogar agrotóxico, ao liberar tudo isso. Quando o índio aprender a desmatar, vai matar o seu próprio povo, porque não vai o que caçarmos ou pescarmos”, destacou Mydier Kayapó.

Algumas lideranças expressaram-se em na sua língua materna, makro-ge, revelando o medo de que a liberação traga doenças e destruição. “Reivindicamos nosso único direito de defesa das florestas e dos rios, para que eu, meus filhos e meus netos possamos pescar e caçar. Precisamos dos poucos não indígenas que apoiam a gente”, afirmou um cacique.

Para o presidente do CNDH, Renan Sotto Mayor, é muito preocupante que a Funai, que tem como missão proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil, peça auxílio da Força Nacional. “Os indígenas vieram a Brasília lutar pela efetivação de seus direitos. Assim, caberia à Funai ouvi-los e verificar todas suas demandas”, afirmou.

O conselheiro Fabiano Contarato, senador da República e presidente da Comissão de Meio Ambiente, destacou que o momento vivido pelo Brasil é de extrema violação de direitos humanos, em especial para os povo originários, que, segundo ele, estão sendo dizimados pelo próprio poder público.

“Este é não é um governo para os povos originários, e todos os problemas passam por uma questão fundamental: a falta de demarcação de terras indígenas. Temos que nos unir cada vez mais porque a violação dos povos originários é dos direitos mais originais. Eu fico muito triste enquanto ser humano, homem e parlamentar quando a população brasileira não se importa com o genocídio estatal que está sendo realizado. Eu peço perdão a todos vocês diante desse genocídio de Estado praticado pelo governo atual”, afirmou Contarato.

Nota do CNDH

Diante do ocorrido, o CNDH aprovou em plenário Nota Pública de repúdio à solicitação feita pela Funai e a determinação por parte do Ministério da Justiça para uso da Força Nacional como ação intimidadora da legítima manifestação de lideranças indígenas.

Leia a nota AQUI [1] na íntegra.