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Indígena assassinado no Maranhão é o 4º Guajajara morto de forma violenta em menos de dois meses

Corpo do jovem Guajajara foi encontrado na manhã desta sexta, 13 de dezembro

Por Assessoria de Comunicação – Cimi | Atualizado às 17h03 de 13 dezembro

Erisvan Soares Guajajara, de 15 anos, havia saído da Terra Indígena Arariboia, há cerca de duas semanas, para acompanhar o pai, Luizinho Guajajara, ao município de Amarante, no Maranhão, que fica a 683 quilômetros da capital São Luís. À cidade se dirigiram para com a aposentadoria do pai comprar mantimentos e roupas, hábito comum aos indígenas que saem dos territórios para nos centros urbanos encontrar aquilo que não plantam, tecem, caçam ou colhem. A viagem acabou de forma trágica nesta sexta-feira (13) quando o corpo do jovem indígena foi encontrado esquartejado em um campo de futebol localizado em Amarante.

“Vieram até para comprar umas roupinhas para ele (Erisvan), mas não conseguiram voltar”, diz o irmão da vítima, Luiz Carlos Guajajara. Bastante abalado, o indígena afirmou que Erisvan morava na aldeia Arariboia, onde estudava. “Aconteceu essa tragédia e estamos nessa situação… triste. Uma dor, um coração nosso que se vai”, relata. Ainda não se sabe as circunstâncias do crime, mas aparentemente Erisvan foi assassinado a golpes de faca. Não há notícias sobre o paradeiro ou a identidade dos criminosos.

O irmão de Erisvan afirma que “tem que ter alguma Justiça para investigar isso. Precisamos de que se preocupem com o que está acontecendo conosco”. À imprensa local, a Polícia Militar declarou que o assassinato ocorreu durante uma festa no bairro Vila Industrial, na noite de quinta-feira (12). Junto ao corpo de Erisvan, estava o de um homem de 31 anos, não indígena, também esquartejado. A polícia suspeita que as mortes ocorreram por um suposto envolvimento das vítimas com o tráfico de drogas.

Informação não confirmada por lideranças Guajajara e pelos familiares de Erisvan. “Era um menino tranquilo, como qualquer outro menino da idade dele. Vivia na aldeia. Ia para a cidade uma vez ou outra”, explica o irmão. De maneira precipitada, com uma pressa oposta à habitual apatia diante de casos de violência nos territórios, e sem aguardar o término das investigações, a Fundação Nacional do Índio (Funai) soltou uma nota afirmando que “segundo a polícia (…) estão descartadas todas motivações de crime de ódio, disputa por madeira ou por terras”.

Para o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, Gilderlan Rodrigues, o trecho da nota da Funai é lamentável porque “parece uma isenção, como se o órgão não tivesse a ver com o fato. Há uma sequência de violência afligindo o povo Guajajara e a Funai deveria olhar para isso”. Para Rodrigues, a postura da polícia e da Funai em querer antecipar o resultado das investigações de um crime com requintes de crueldade “é como matar mais uma vez o indígena”.

Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), foi enfática em seu pronunciamento nas redes sociais: “São muitas falácias, muitas versões, acusações, não interessa, ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém”, escreveu.

“Não é apenas um cenário de guerra, estamos num campo de batalha onde o ódio disseminado pelas forças políticas conservadoras, autoritárias, racistas são estimuladas pelo fascismo que já extrapolou todos os seus limites”, completou a liderança indígena que esteve, nas últimas semanas, em agenda com organismos internacionais de direitos humanos denunciando as violências sofridas pelos povos indígenas no Brasil. No Maranhão, especificamente entre o povo Guajajara, essa violência ceifou a vida de quatro indígenas, contando com Erisvan, desde novembro.

Sequência de violência

Os Guardiões da Floresta Paulino Guajajara e Laércio Souza Silva partiram da aldeia Lagoa Comprida, norte da Terra Indígena Arariboia, a 100 km do município de Amarante, para na mata caçar [1]. Perto de um igarapé, foram surpreendidos por cinco madeireiros armados que os aguardavam em emboscada. Sem esperar qualquer reação dos indígenas, os madeireiros, em maior número, começaram a atirar. Um dos disparos atingiu Paulino no rosto que morreu na hora. Laércio foi alvejado no braço e nas costas, mas conseguiu escapar.

No dia 7 de dezembro, um grupo Guajajara foi atacado a tiros enquanto percorria em motocicletas um trecho da BR-226, próximo à aldeia El Betel, na Terra Indígena Cana Brava, no município de Jenipapo dos Vieiras [2]. Dois caciques foram mortos: Firmino Prexede Guajajara, de 45 anos, da aldeia Silvino (TI Cana Brava), e Raimundo Benício Guajajara, de 38 anos, da aldeia Decente, Terra Indígena Lagoa Comprida. Outros dois indígenas ficaram feridos.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, anunciou na segunda-feira (9), por meio de portaria, o envio de tropas da Força Nacional para proteger indígenas, não indígenas e servidores públicos na Terra Indígena Cana Brava. Porém, o documento excluiu a Terra Indígena Arariboia, a aproximadamente 200 quilômetros da Cana Brava, que apresenta o maior número de invasões, roubos de madeira e caça ilegal na região. E agora mais uma vítima da onda de violência que assola o povo Guajajara.