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Curta lançado em Brasília retrata retomada Guarani em Maquiné

Por Cristina Ávila

Em um dos pontos de referência das rodas de bate-papo dos ativistas da cultura brasiliense, na “Banca da Conceição”, na Asa Sul, em Brasília, três jornalistas lançaram nesse final de semana o audiovisual “Retomada Yvyrupá”, que em apenas 6 minutos consegue resumir o fundamental significado do movimento indígena brasileiro pelo retorno a seus territórios tradicionais. “A gente voltou a viver”, explica o cacique Guarani Mbyá André Benitz em uma cena que mostra exercícios da escola ao ar livre de crianças e adolescentes, na área de retomada de uma preservada Mata Atlântica, em Maquiné, a cerca de 130 km de Porto Alegre (RS).

O vídeo foi criado por Cristina Ávila, André Corrêa e Pablo Albarenga, produto do jornalismo independente, com o apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e jornal Extra Classe, veículo do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro-RS). Cristina e André trabalharam juntos no Correio Braziliense, entre a década de 90 e início dos anos 2000, e Pablo é uruguaio com diversos trabalhos realizados no Brasil. A banca em que foi lançado o audiovisual também é de uma jornalista, Conceição Freitas, que trabalhou mais de 20 anos no Correio Braziliense.

Yvyrupá é a expressão que os Mbyá usam para designar a estrutura que sustenta o mundo terrestre, e evocar o sentido de ocupação de seus territórios de maneira livre, como era antes da chegada dos europeus no Brasil. André Corrêa conceituou o audiovisual como “um manifesto” em favor das populações tradicionais. Cristina Ávila ressalta a importância do movimento indígena, especialmente neste momento em que a democracia sofre um golpe político-jurídico. Em janeiro, se intensificaram invasões de terras indígenas, por madeireiros e com derrubadas de florestas para plantio de pastagens. “No Congresso Nacional, em 2017 foram contabilizadas 848 tramitações de projetos de leis anti-indígenas, que fazem ressonância com iniciativas do Executivo para a extinção de direitos constitucionais”, ressalta ela.

O contraponto da violência é, em “Retomada Yvyrupá”, o contentamento de meninas e meninos que têm sua educação baseada nas relações com a natureza. Imagens lindas de Pablo Albarenga, que incluem drone, mostram matas exuberantes do bioma no litoral gaúcho. Uma das mais belas cenas do audiovisual, porém, é do coral das crianças que cantam na língua materna. “As retomadas não são apenas de terras”, enfatiza o cacique André Benitz. O trabalho mostra ações cotidianas na aldeia, de resgate de aspectos culturais que estavam adormecidos, sem prática, por causa da situação precária dos acampamentos nas estradas, onde viviam e não podiam exercitar coisas do dia a dia comum, como o plantio das sementes de espécies tradicionais do milho que eles guardaram para usar no espaço reconquistado.

Orientados por espíritos e visões em sonhos, os Guarani Mbyá – que têm como característica o comportamento conciliador e a paciência de espera – nos últimos dois anos resolveram apressar a recuperação de territórios tradicionais, e já fizeram cinco retomadas no Rio Grande do Sul. Uma delas na capital gaúcha, no bairro Belém Novo, outra em Viamão, na Grande Porto Alegre, e nos municípios de Maquiné, Rio Grande e Terra de Areia. No estado, 2 mil índios, incluindo também os Kaingang, vivem em 27 acampamentos na beira de rodovias ou em áreas degradadas, alguns montados há mais de 40 anos a espera de respostas as suas reivindicações.

Para saber mais

Aldeia no asfalto [1]”, um audiovisual de Cristina Ávila e Pablo Albarenga que representa a situação de 2 mil índios Guarani e Kaingang que vivem em 27 acampamentos em margens de rodovias e em áreas degradadas no Rio Grande do Sul.