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Encontro de parceiros de Misereor na Bahia avalia conjuntura nacional para trabalho unificado

O Encontro de parceiros de Misereor na Bahia reuniu, nos dias 30 e 31 de outubro, em Salvador/BA, representantes do conjunto de movimentos e entidades apoiadas por Misereor no Estado para fortalecer a luta unificada, por meio de estratégias coletivas, tendo em vista a conjuntura nacional. O evento foi realizado na sede da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e contou com a assessoria do Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais (CAIS).

O debate foi inspirado na resistência de Canudos (Canudos não se rendeu) e em um texto bíblico extraído do Livro do Êxodo, 14,15: “Diga ao Povo que avance – Avançaremos!”. A discussão foi fomentada pela representante da Misereor Anna Moser, e os representantes do Conselho Indigenista Missionário – CIMI, Comissão Pastoral da Terra – CPT, Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais – AATR, Conselho Pastoral Pescadores – CPP, Cáritas Nordeste 3, Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA, Centro de Estudos e Ação Social – CEAS, Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE, Pastoral Rural da Diocese de Paulo Afonso e Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais– Sasop.

Para os parceiros de Miserior, o momento é extremamente importante. Sentimentos como desanimo, insegurança, medo, ansiedade, preocupação, tristeza, frustração foram colocados na mística inicial, mas também foram ressaltados sentimentos como esperança, trabalho, união, acolhida, luta e resistência que terminaram por animar a todos na continuidade da Missão e da Luta.

“Se o mundo andar para trás eu vou escrever no cartaz a palavra rebeldia, Se a gente desanimar eu vou colher no pomar a palavra teimosia, e se acontecer afinal entrar em nosso quintal a palavra tirania. Vamos para rua gritar a palavra utopia”.

Durante os dois dias foram realizados momentos de acolhimento coletivo, de animação em mutirão e, sobretudo, de reflexões estratégicas e importantes para a caminhada de Parceiros de Misereor na Bahia. Nesse contexto, quatro importantes desafios foram identificados: 1 – levar o tema da sustentabilidade a sério – assumir a prática como desafio organizacional e ver este caminho como uma semente; 2- estabelecer redes para criação de ações conjuntas – enfatizar as organizações que podem ser unificadas para pensar programas de captação ou até mesmo em âmbito nacional, derrubar muros e construir pontes para sair dos limites institucionais; 3-  ampliar a comunicação para além dos pares institucionais, com linguagem didática; 4-  pensar a longo prazo – planejar um modelo de captação institucional e investir com profissionalismo.

Ruben Sirqueira, da CPT Bahia, apresentou alguns elementos da conjuntura nacional, avaliação de fundamental importância neste momento, destacando que o processo que vem ocorrendo no Brasil na verdade não é um processo isolado, ele é um movimento mundial, e que o governo que se elegeu não é apenas fascista ele é um governo de “ocupação” com fortes características de militarismo. E que esta eleição já vinha sendo gestada há muito tempo. O representante reafirmou, ainda, que o oprimido precisa “desvendar” a situação, ou seja, voltar a fazer formação política. Para Rubem Sirqueira, Paulo Freire nunca foi tão importante como neste momento, a sua Pedagogia do Oprimido deverá ser fundamental para a reorganização do povo. Rubens abordou, também, questões como a segurança pessoal, o autocuidado, aconchego, medidas de segurança institucionais, cuidados com a tecnologias.

O sociólogo e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Sérgio Amadeu, ampliou o debate sobre “Cuidado com as tecnologias (mídias/redes digitais). Sérgio Amadeu destrinchou o processo de construção, artimanhas e utilizações dos mais variados tipos de recursos das chamadas “mídias/redes digitais”. Em pauta, Sérgio Amadeu mostrou como este instrumental tem sido usado para derrubar democracias, gerar guerras, roubar informações, fraudar processos eleitorais, entre outros. O sociólogo encerrou a temática [1] com demonstração da necessidade de fortalecimento do uso dessas ferramentas pelos movimentos sociais e entidades.

Se o mundo ficar pesado, eu vou pedir emprestado a palavra poesia. Se o mundo emburrecer, eu vou rezar pra chover a palavra sabedoria. Se acontecer afinal de entrar em nosso quintal a palavra tirania. Pegue o tambor e o ganzá. Vamos pra rua gritar a palavra utopia”.

Por fim, foi tratada a questão da cooperação internacional, apoio de Misereor, como passar da reação para ação. Nesse sentido, foram apresentadas sugestões de encaminhamentos, propostas de ações conjuntas, manutenção de encontros e atividades semelhantes ao próprio encontro realizado, replicação dos conteúdos nas bases das Entidades e junto as comunidades onde se atua. O que foi incluído, ainda, a necessidade de investimentos e capacitações nas áreas de sustentabilidade e comunicação institucional, segurança pessoal e redes/mídias digitais, atividades conjuntas e fortalecimento do trabalho de base com o uso das novas tecnologias a favor da articulação, formação e organização.