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Atentado contra a cacique Madalena Pitaguary é consequência da falta de demarcação das terras indígenas

Cacique Madalena Pitaguary, baleada em atentado nesta quarta (12). Foto: arquivo pessoal

Cacique Madalena Pitaguary, baleada em atentado nesta quarta (12). Foto: arquivo pessoal

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Nordeste subscreve a presente nota e torna público o seu veemente repúdio aos atos de violência contra os povos indígenas no Brasil, em particular ao atentado sofrido pela cacique Madalena Pitaguary na noite desta quarta-feira, dia 12, no território tradicional do povo, localizado no município de Pacatuba, a poucos quilômetros de Fortaleza, capital cearense.

A indígena levou um tiro na nuca ao lutar contra um homem encapuzado que a emboscou em uma estrada de terra, enquanto ela e outras mulheres, incluindo uma criança, andavam de uma aldeia à outra. Durante o embate corporal, o homem disparou o revólver e, na sequência, fugiu.

Hospitalizada e sem risco iminente de morte, a cacique precisou passar por uma cirurgia na cabeça, na tarde desta quinta-feira, dia 13, devido às consequências do disparo: afundamento de uma parte do crânio e a presença de chumbo na região atingida.

Infelizmente não se trata de um ato isolado. Lideranças Pitaguary vêm sendo vítimas de pauladas, ameaças de todo tipo, um indígena foi queimado vivo [1], mulheres comumente são espancadas e agora este covarde atentado contra Madalena Pitaguary.

Além de agressões físicas e atentados, os Pitaguary têm sido vítimas de diferentes estratégias de violência [2], caso dos grandes empreendimentos em seu território. Recentemente o povo enfrentou na Justiça, e saiu vitorioso, empresas de mineração [3] que buscam dilapidar áreas do território.

Estes são efeitos incontestáveis da violência extrema possibilitada pela falta de conclusão do procedimento de demarcação da terra indígena, pleiteada pelos Pitaguary há décadas. A situação se tornou ainda mais dramática após a Portaria 001 da Advocacia-Geral da União (AGU), que oferece um ambiente favorável aos agressores e invasores dos povos e terras indígenas.

O Cimi Regional Nordeste se solidariza com os Pitaguary e exige investigação imediata deste crime. Bem como a conclusão da demarcação da Terra Indígena Pitaguary e a retirada dos invasores. A permanência desta situação tem gerado dissociações e sofrimentos para o povo.

Não podemos admitir tal padrão de violência impune e abjeta, atos arbitrários e criminosos que operam no plano material e simbólico e se impõem sobre o povo Pitaguary de maneira atroz. Colocamo-nos em apoio, denunciando a violência que os indígenas têm sofrido. Que suas terras sejam demarcadas e as investigações das autoridades públicas sejam realizadas. Pelo fim do descaso das autoridades e da falta de justiça e reparação.

Ceará, 13 de setembro de 2018

Cimi Regional Nordeste