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Salvos pela reza e resistência

Foto: Egon Heck/Cimi

Por Egon Heck, do secretariado nacional Cimi

Quando as tropas formadas por agentes da polícia federal, polícia militar do estado do Mato Grosso do Sul, corpo de bombeiros e polícia especial da fronteira – DOF já estavam a caminho da anunciada ação de despejo de duas comunidades Kaiowá Guarani, no município de Caarapó, próximo à Terra Indígena Tey  Ikuê, foram surpreendidos com a decisão da Ministra Carmen Lúcia presidente do Supremo Tribunal Federal, de suspender a reintegração de posse.

Era madrugada do dia 9 de abril. Muita reza e uma grande rede de solidariedade nacional e mundial. Mais um massacre estava prestes a acontecer. As rezas de dezenas de Nhanderu e Nhandesi ( líderes religiosos) e a mobilização do povo Kaiowá e Guarani, mobilizados e em resistência conseguira evitar mais um massacre eminente. A decisão da ministra Carmen Lúcia foi decisiva. Se espera que o Estado brasileiro, conivente  e responsável por essa situação permanente de tensões, violência e genocídio, de sequência imediata ao reconhecimento e demarcação das terras dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, caso contrário continuará sendo acusado em instância internacionais por esses crimes.   

O genocídio continua no Mato Grosso do Sul

“Não aguentamos mais, voltaremos a nossas terras para delas cuidar e viver com dignidade’.

Com essa afirmação do documento final da Aty Guasu, realizado na aldeia de Pirakuá, os indígenas Guarani Kaiowá expressaram sua disposição de voltarem  ao sagrado direito dos seus territórios, através da única alternativa que lhes resta: retornar a suas terras tradicionais, os tekohá..

Diante de mais uma operação de brutal violência, que significa por si só a ação de despejo, já que a Constituição Federal e legislação internacional da qual o Brasil é signatário, garantem esse direito incontestável a eminência de violência é grande.

“A comunidade decidiu resistir e está disposta, se preciso for, morrer na resistência”, externaram lideranças das comunidade ameaçadas de despejo. Afirmação que veio corroborar a afirmação já expressa na Aty Guasu de Pirakuá, realizada no final do ano passado.

“Caso persistir  a reintegração de posso o Estado brasileiro será responsável, pois haverá morte coletiva do povo Guarani e Kaiowá, nós resistiremos até o fim”, afirmavam na ocasião.

Foto: Egon Heck/Cimi

A atitude de tentar a retirada os indígenas de suas terras tradicionais é mais um total desprezo e desrespeito à Constituição e à lei 6001, Estatuto do Índio de 1973, conforme as quais o Estado brasileiro deve demarcar todas as terras indígenas já  a mais de 25 e 35 anos respectivamente. Concluíram os indígenas: “Vamos nos mobilizar para evitar esse massacre. Assim, o povo Kaiowá Guarani pediu a suspensão do despejo para que não aconteça mais um massacre, como em 2016 no episódio conhecido como Massacre de Caarapó.  [1]

Na Aty Guasu de Pirakuá os Kaiowá Guarani externaram sua inquebrável resistência e esperança.

“Resistiremos na esperança de crescermos na união, fazendo nascer do nosso chão, regado com nosso próprio sangue e com as lágrimas de nossos sentimentos veremos crescer novos guerreiros”.

Lideranças das aldeias ameaçadas de expulsão estão enviando um grito de SOCORRO. Terminam sua carta de pedido de ajuda afirmando a decisão de não abandonar seus tekohá. “Somo donos das terras originárias, lutaremos até a morte, nessa terra sagrada”

“O despejo não resolve o problema, só as demarcações podem resolver o problema, demarcar e demarcar”, expressou o delegado da polícia Federal Luiz Carlos Porto, que esteve com as comunidades/aldeias  na semana passada.  Quem sabe o Estado brasileiro comece, com décadas de sangue derramado, a começar a  pagar a secular dívida para com os povos originários do Brasil.