Por Ruy Sposati,
de Tacuru (MS)
Em 2010, todas as crianças foram reprovadas na escola por falta de transporte escolar (Ruy Sposati/Cimi)
Sem escola há três anos, mães do tekoha – “o lugar onde se é” em guarani – Kurusu Ambá exigem que prefeitura garanta a abertura de 46 vagas no ensino fundamental para o início do ano letivo de 2013. Retomada em
“A gente mesmo construiu o espaço pra ser a escola, de sapé. Queremos escola aqui na aldeia, não fora”, explicam as mães. “No ano passado a gente construiu isso, e foi no Ministério Público Federal pra botar a escola pra funcionar”. Segundo as mães, depois de ter tomado conhecimento das possibilidades da denúncia virar uma ação, a prefeitura do município teria proposto à comunidade de que os estudantes continuassem estudando por mais dois meses fora da aldeia, até que a escola no Kurusu Ambá estivesse funcionando.
A proposta não foi aceita pelos Kaiowá. “Não vamos mandar mais as crianças para escola fora da aldeia”, explicam. “A gente acha que eles querem enganar com isso. Dizem que é só dois meses mas depois é o ano todo, e os problemas vão continuar”. Segundo as mães, as dificuldades da educação fora do tekoha não compensam os deslocamentos.
“A criança sofre muito no inverno, sem agasalho, com fome [1], ficam muito longe da casa, são discriminados… Com a escola na aldeia, as mães podem cuidar mais. É muito melhor. Temos a nossa casa de reza, e assim com a escola junto as crianças conhecem a cultura, o jeito de viver. A gente quer que a escola funcione lá, funcione tudo junto com a aldeia”, reivindicam as mães.
Desde que os Kaiowá reocuparam parte de seu território tradicional, as crianças da comunidade estudam a
“Faz três anos que os alunos estudam fora. E faz três anos que as crianças levam prejuízo”, relata Ismarth Martins, liderança de Kurusu Ambá. “Em 2010, os alunos perderam quatro meses de aula porque a prefeitura não mandou mais ônibus. Naquele tempo, justificaram que tinham medo de pistoleiro, de que os motoristas estavam com medo… E então 100% dos alunos repetiram de ano. Ninguém passou”. Em 2011 e 2012, segundo Ismarth, os problemas persistiram, e também as reprovações. “Às vezes chove um dia, dois, e já é motivo para o transporte escolar parar uma semana. Então teve muito aluno reprovado por causa das faltas, por faltar na prova”.
“Nós temos dois professores na comunidade. A prefeitura precisa contratá-los, e dois monitores, merendeira e a entrega do material escolar. Se nao for cumprir, vamos entrar com ação”, garante.
As aulas iniciam dia 14 de fevereiro. Ismarth e as mães acreditam que começarão o ano letivo com aula na aldeia. “A gente tá colocando parede de madeira agora, pra ficar pronta até lá. Mas nós não vamos mais mandar criança pequena pra lá não. A gente decidiu e tá decidido”, concluem.