Renato Santana
De Brasília
Em resposta ao ataque sofrido pela comunidade Kaiowá Guarani do acampamento Tekoha Guaiviry, região sul do Mato Grosso do Sul, nesta sexta-feira (25) acontece na Assembleia Legislativa de Campo Grande, às 9 horas, Ato Público Contra o Extermínio dos Povos Indígenas no estado.
Dezenas de organizações sociais, parlamentares, sociedade civil e entidades indígenas e indigenistas estão envolvidas na manifestação pública a favor da demarcação e homologação das terras indígenas no estado como forma de coibir a violência e o etnocídio.
O ato é uma das atividades que fazem parte das mobilizações indígenas desencadeadas logo após a ação de um bando de pistoleiros mascarados no início da manhã do último dia 18. Na ocasião, o cacique Nisio Gomes foi atingido por vários disparos de arma de grosso calibre e depois teve o corpo levado pelos atiradores.
No sábado (26) ocorrerá um Aty Guasu (Grande Reunião)
Todas essas ações culminarão num Aty Guasu com a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Comitê Gestor Indigenista Interministerial – formado por 12 ministérios.
Permanência
Desde o dia 1º deste mês os indígenas ocupam um pedaço de terra entre as fazendas Chimarrão, Querência Nativa e Ouro Verde – instaladas
“O povo continua no acampamento, nós vamos morrer tudo aqui mesmo. Não vamos sair do nosso tekoha”, afirmou Valmir Kaiowá Guarani, filho do cacique morto. Ele disse ainda que a comunidade deseja enterrar o cacique na terra pela qual a liderança lutou a vida inteira. “Ele está morto. Não é possível que tenha sobrevivido com tiros na cabeça e por todo o corpo”, lamentou.
A comunidade vivia na beira de uma Rodovia Estadual antes da ocupação do pedaço de terra no tekoha Kaiowá. O acampamento atacado fica na estrada entre os municípios de Amambai e Ponta Porã, perto da fronteira entre Brasil e Paraguai.
Conforme recente publicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) sobre a violência pratica contra os povos indígenas do MS nos últimos oito anos, no estado está concentrada a maior quantidade de acampamentos indígenas do País, 31 – há dois anos, em 2009, eram 22.
São mais de 1200 famílias vivendo em condições degradantes à beira de rodovias ou sitiadas
Atualmente, 98% da população originária do estado vivem efetivamente em menos de 75 mil hectares, ou seja, 0,2% do território estadual. Em dados comparativos, cerca de 70 mil cabeças de gado, das mais de 22,3 milhões que o estado possui, ocupam área equivalente as que estão efetivamente na posse dos indígenas hoje.
Sobre o território
Com relatório em fase de conclusão pela Fundação Nacional do Índio (Funai), a área ocupada pela comunidade está em processo de identificação desde 2008. Por conta disso, o ataque tem como principal causa o conflito pela posse do território. A região do ataque fica a meia hora da fronteira com o Paraguai.
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) do Ministério Público Federal (MPF), referente ao processo de demarcação da Terra Indígena, está em execução.